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Enfant terrible do teatro britânico contemporâneo, Steven Berkoff tem registrada a passagem de seu natalício octogenário na montagem, em nossos palcos, de sua peça Vilões de Shakespeare, com o protagonismo solo de Marcelo Serrado e sob o comando diretorial de Sergio Módena.
A múltipla incursão
artística de Berkoff vai do teatro, onde atua como dramaturgo, ator e diretor,
às sua presencialidade no cinema, com prevalência de papéis identificados
com a maldade e a vilania. Como os malfeitores em Rambo e no James Bond
Octopussy, ou no Kubrick , de Laranja Mecânica e Barry Lyndon.
Agindo assim, provocativamente, incomodou tanto, a ponto de uma jornalista inglesa classificá-lo
de “horrivelmente feio” e do roqueiro Bryan May abrir uma de suas canções com a
frase –“Tenho medo de Steven Berkoff”.
Mas, apesar do radicalismo de afirmações autorais
anti-étnicas como “odeio Israel, odeio o sionismo, mas não odeio os judeus”, ele acabou
foi recebendo, com esta peça, o prêmio Laurence Olivier. Uma espécie de
investigação teatral em torno de malévolos personagens shakespearianos, entre
os rigores da pesquisa acadêmica e o
criticismo irônico de sua nuance stand up,
com olhar armado na contemporaneidade.
E é exatamente este confronto alterativo de tragi(comi)cidade
na representação destes arquétipos da vilania , de sério embasamento
clássico/historicista na trajetória da criação dramatúrgica, que nos faz
enaltecê-la por seu teor lúdico/risível ou simplesmente odiá-la pelo risco de um
superficial aprofundamento temático.
À convicta concepção de Sergio Módena , a partir de uma
cuidadosa tradução/adaptação de Geraldinho Carneiro, não se pode atribuir
qualquer desvio de transposição cênica quando, nos interregnos de episódicas passagens
dos originais shakespearianos , abre-se uma cumplicidade opinativa
palco>plateia( induzida, inclusive, pelo próprio Berkoff).Aqui unificando-se numa indumentária atemporal(Carol Lobato) e no belo desenho de luz de Paulo Denizot.
Sob o alcance da tarimba e maturidade de Marcelo Serrado, neste
formato teatral de humor interativo, sabendo quando se deve preservar a progressão dramática na instantaneidade da personificação destes anti-heróis, “ausentes de amor e compaixão”, como Iago(em Otelo), Macbeth,Coriolano, Ricardo III ou Shylock.
E com uma até inabitual e ousada inclusão de outros “não tão culpados” sob as
pulsões da fortuna, casos de Hamlet ou Oberon (Sonho de Uma Noite de Verão).
Ou quando se avança
na cumplicidade participativa desta dialetação stand up. Às vezes funcional, às vezes de um imbecilizante vazio, na resposta
de cada espectador, com inteligente sutileza ou por ocos lugares comuns. Neste, enfim até propício, referencial identitário da vilania de seus
personagens com a implacabilidade maléfica dos mentores de um vergonhoso status político por nós vivenciado.
Wagner Corrêa
de Araújo
VILÕES DE SHAKESPEARE está em cartaz no Teatro dos Quatro,
sexta às 21h30m;sábado e domingo, às 20h. 70 minutos. Até 01 de outubro.
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