FOTOS/DALTON VALÉRIO |
Há doze anos começava uma aventura teatral despretensiosa a
partir de uma fórmula básica de comédia romântica, no formato de um monólogo
confessional e com uma narrativa sobre lugares comuns do discurso amoroso.
Um inesperado e surpreendente lance de dados nos albores
teatrais de Mônica Martelli que, então, decidiu
avançar, além da sua mera inicialização de jovem atriz, se atirando, com cara e coragem, na
criação dramatúrgica autoral.
Encarada quase como um exercício lúdico mas que acabou, graças a um talentoso e singularizado
acerto, no desafio da representação de uma temática já
por demais explorada e , por isto mesmo, de maior exigência inventiva.
Nada mais nada menos que a ansiosa busca pelo amor e pelo parceiro ideal para uma vida comum a
dois, como foi em “Os Homens são de
Marte...E é pra lá que eu vou”.
Agora, depois de um recorde de sucesso público, aplauso da
critica, versão cinematográfica e série televisiva, Fernanda( Mônica Martelli) está de volta em Minha Vida em Marte,com mais o aporte valioso da irmã/diretora Susana
Garcia.
Mudando-se o parâmetro, na revelação sequencial do desgaste no outrora
tão feliz relacionamento afetivo/sexual e numa consequente procura de respostas,
confessionais ou via analista, ao
questionamento de um status conjugal em crise.
Com sua nuance de sutis toques autobiográficos, a progressão
dramática se estabelece em contagiante conluio com a plateia, como se esta
introspectiva dialetação(personagem/analista) fosse extensiva a cada espectador,
observador/participante do embate psicológico numa imaginária terapia em grupo.
A arquitetura cenográfica(Flávio Graff), sob um desenho de
luzes vazadas (Maneco Quinderé), apresenta sofisticado detalhamento na
minimalista sugestão de elementos da ambiência de um quarto. Onde com elegância,
sem a quarta parede, são trocados figurinos de bom gosto (Marcella Virzi) e retocados cabelo e
maquiagem. Tudo sob o compasso de uma envolvente gestualidade( Márcia Rubin) e dos acordes musicais da dupla Lucas Marcier/Fabiano Krieger.
Com uma funcionalidade plástico/decorativa que apenas
favorece visualmente a representação. Já que na interiorização , na sinceridade
e no carisma com que Monica Martelli
explora seu eu/personagem, o público tem seu olhar armado e direcionado
apenas para sua sensorial presença.
Uma atriz , afinal, no enfrentamento de todos os eufemismos de uma trama trivial sobre conflitos do matrimônio, com
sua espontânea verdade personalista na
transmissão de um texto capaz, sobretudo, de confundir o alter ego de Mônica na personagem Fernanda.
Sempre sob o convicto comando de Susana Garcia que, na sua
gramática cênica de um espetáculo comercial qualificado, sabe como bem dosar drama
e riso, sem banalizar a dor de cotovelos e os sentimentalismos que,
instintivamente, tem seu reflexo especular
na vida de cada um de nós.
Wagner Corrêa de Araújo
MINHA VIDA EM MARTE está em cartaz no Teatro das Artes, Shopping da Gávea, sexta e sábado, às 21h; domingo,às 20h. 70 minutos. Até 29 de outubro.
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