DON QUIXOTE - FOTOS /JÚLIA RÓNAI |
Quando foi lançado o catálogo, com toda programação oficial
2016 do Theatro Municipal/RJ, houve a
feliz surpresa da reveladora inclusão, além das obras comuns do repertório
operístico, de outras mais arrojadas, entre o
ineditismo ou a raridade, no
palco mais nobre da capital carioca.
Como foi o caso de Don
Quixote, de Massenet, e Jenufa, de Janácek, ao lado das habituais voltas com Orfeu e Eurídice ( Gluck) , Lo Schiavo( Carlos Gomes), O
Barbeiro de Sevilha(Rossini) e La Bohème(Puccini). Mas, nos reveses da crise
econômica que assolou o Estado,
sobreveio o cancelamento definitivo de Rossini sendo o Puccini salvo, mas em forma de concerto.
Onde, felizmente, a decepção do público foi resgatada pela
presença dos solistas originalmente contratados, todos com um eficaz desempenho vocal,
além do potencial destaque para o
Rodolfo do tenor Ivan Magri.
A abertura da temporada, com a retomada do Don Quixote, em coprodução com SP(Teatro São Pedro),
impressionou pela sintonia de seus recursos artísticos/musicais, da concepção
cenográfica ao naipe de intérpretes, como a régie e a direção musical.
Favorecendo o clima da representação e dimensionada na memorável atuação vocal/cênica do
protagonista, o baixo Gregory Reinhardt.
ORFEU E EURÍDICE/- FOTOS JÚLIA RÓNAI |
A original transposição estética de Caetano Vilela, com
referencial de uma arquitetura em construção, para o Orfeu e Eurídice(Gluck), mesmo com os intensos matizes vocais da mezzo soprano
Denise de Freitas e da soprano Lina Mendes, sofreu com o desacerto dos
figurinos e não combinou com o academicismo das incidências coreográficas.
O programa Ópera+Ballet ao reunir duas obras de
Rimsky-Korsakov – causou estranhamento na versão em português da ópera em um
ato Mozart & Salieri, cujo fraseado musical tem íntimo lastro no suporte
linguístico russo, a partir do original
de Pushkin.
Embora as modulações cênico/musicais tenham alcançado
unidade interpretativa no confronto das nuances vocais de baixo/ barítono(
Inácio De Nonno) e tenor( Flavio Leite), num espetáculo que teve seu maior
mérito no inventivo ideário da estréia operística do dramaturgo e diretor
teatral Daniel Herz.
A volta de Carlos Gomes ao Municipal emprestou, mais uma vez,
dignidade à proposta do comando diretor do teatro, não só de priorizar os
compositores como os cantores nacionais.
Lo Schiavo mostrou ,assim, a competência para uma encenação
dramático/musical irrepreensível do repertório histórico da ópera brasileira. A
maturidade artística, o domínio técnico e a carismática representação do
barítono Rodolfo Giugliani no papel título, sem desmerecer os outros intérpretes,
provou que o Theatro Municipal está no caminho certo.
E que se faltou o esperado e necessário contraponto da
contemporaneidade com o adiamento de Jenufa (Janácek) para a temporada 2017, a
programação continua acertando neste seu investimento estético, da tradição à
modernidade, pela coerente busca, enfim,
da adesão e da cumplicidade de
todos os tipos de público.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
LO SCHIAVO/ FOTOS JÚLIA RÓNAI |
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