GRITOS: METAFÓRICOS IDEOGRAMAS CORPORAIS


FOTOS/RENATO MANGOLIN

“O pensamento visual se aproxima mais dos processos inconscientes que o pensamento verbal” . Este principio freudiano marca indelevelmente a concepção conceitual, entre a temática e a estética, da mais nova criação do teatro gestual da Cie Dos a Deux, titulada como Gritos.

O dimensionamento psicológico dos três poemas gestuais metafóricos, integrantes de sua teatralidade estrutural,   visualiza-se na relação seminal entre os atores e sua auto - direção( Artur Ribeiro e André Curti)com as insólitas e incisivas instalações cenográficas.

A aridez da  arquitetura cenográfica (ainda,na criação conjunta de A.Ribeiro/A.Curti) com seus murais divisores à base de molas de camas  , cadeiras e mecânicos bonecos humanos( Natacha Belova / Bruno Dante), potencializa-se  na  simbólica duplicação imagética de fragmentos corporais dos dois  protagonistas.

As luzes( Arthur Luanda/Hugo Mercier),sombrias e soturnas, replicando uma marca criativa da Cie Dos a Deux, apenas delineiam os traços de um figurino cinzento (Thanara Schonardie) entre penumbras.

Onde os acordes de uma trilha (Marcelo H) de sonoridades graves, em clima de uma partitura de réquiem, ritualizam a plasticidade de um  código tensional, entre uma oprimida rebeldia e patéticos gritos em silencio.

Inscritos no contraponto da enérgica fisicalidade e da introspectiva máscara dos atores/personagens , numa gramática cênica de espontaneidade autoral, nas suas referencias do teatro japonês, do expressionismo cinematográfico e da dança/teatro.

Os  três poemas plástico/teatrais , em sua corporificação cênica, estão sintonizados ,em sua narrativa dramática e na sua tematização, por uma sensorial exposição , entre o onírico e a crua verdade, da tragédia da contemporaneidade.

Ora através da dor laminar,  pelos preconceitos familiares e pelas marginalizações às sexualidades diferenciais em Louise e a Velha Mãe. Ora em clima de absurdidade,  no solitário desencontro do ser humano com seu próprio ego, pela ilusionista busca de sua cabeça no corpo do outro( O Muro).

Ou, ainda , em  fissuramentos díspares de lirismo e caos, na passagem árabe do delírio amoroso à sequência  gestacional, confrontada no enfrentamento dos pesadelos  de guerra ,separação e morte ( Amor em Tempos de Guerra).


Decifrando os significados e os significantes dos processos estéticos e de conteúdo do teatro gestual ,na eficácia de sua linguagem de ideogramas corporais, Gritos revela, enfim, convicta solidez formal , reflexiva intenção crítica.

                                                Wagner Corrêa de Araújo


GRITOS está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, de quarta a domingo, às 19h. 90 minutos. Até 16 de janeiro.
Sessões extras nos dias 26/12, 02, 09 e 16/01 (segundas), às 19h.

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