FOTOS /RENATO MANGOLIN |
O descendente porto-riquenho/haitiano, inicializado de poeta
adolescente a performer underground, entre o hip hop e o grafite. Da exclusão
social racista à marginalização dos drogados, o títere da rebeldia com causa ou da
visceral contestação ideológica.
Entre a solidão e a fama, assim foi a trajetória de Jean-Michel Basquiat,de criador
e de criatura, do êxtase à trágica
finitude. Na overdose suicida de speedball(heroína+cocaína) aos 28 anos ,na instantânea
ascensão ao céu da arte americana anos 80.
Parceiro artístico de Vincent Gallo, Andy Warhol e Keith Haring,idolatrado
por David Bowie, amado por Madonna. E que,depois de ser tema dos filmes de Julian
Schnabel (Traços de Uma Vida) e Tamra Davis( Radiant Child), foi capaz de
sugestionar a singular performance
coreográfica /teatral brasileira Céu de
Basquiat.
Inspirado nos traços existenciais e artísticos de Basquiat, o
artista plástico, performer e coreógrafo Márcio Cunha comemora, agora, seus
quinze anos de incursões cênicas . E priorizado,ainda,na sequencial irmandade de mestres das cores e pincéis(Taizi Harada>Botero>Van
Gogh>Klimt>Frida Kahlo), sem esquecer os grafiteiros pátrios e a si
próprio como desenhista.
Ser introduzido na instalação plástico/cenográfica de sua
lavra é o primeiro encantamento da concepção dança/teatro/performance solo de
Márcio Cunha. Com iluminadas parcerias
artísticas( Ana Paula Bouzas/Aline Bernardi/Juliana Nogueira/Micheline
Torres/Mariana Bernardes Baltar).
Onde, entre reproduções e recriações de Basquiat, desde
painéis/posters a objetos cotidianos, sob luzes ambientalistas (Juca Baracho) e
acordes incidentais jazzísticos, pops e sacros, está metaforizado o universo de
um ‘jovem artista negro num mundo de arte branco”.
Movimentos livres, incisivos, diretos, com força maior no
improviso criativo que no ato coreográfico, numa identificação com a proposta
através de um vocabulário assaz personalista ,entre a poesia e o abismo.
Incorporando elementos
visíveis da obra de Basquiat como luvas de boxe, coroas , aureolas,chapéus,cadeira/trono, signos
gráficos que o intérprete transmuta em seu corpo que é, assim, módulo,suporte,tela, muro, calçada, portal.
Sujeito-objeto ressignificando a gestualidade, de seminal
brutalização, num experimentalismo formalmente arrojado. Capaz,mesmo em sua
densa ritualização de pesadelos e opressões, de impulsionar a envolvência
sensorial do espectador.
Pois é, afinal, enquanto artista e personagem, que Márcio Cunha provoca
com sua dramatização coreográfica , irreverente e insólita , um jogo cênico
vivo e instintivo nesta predestinação ao
Céu de Basquiat.
CÉU DE BASQUIAT, depois de temporada no Sesc/Copacabana, integra a programação de Dança em Trânsito, no CCBB,Centro, dia 26 de agosto,às 21h.
Nenhum comentário:
Postar um comentário