FOTOS/ DALTON VALÉRIO |
Da tela, de volta ao
livro , em direção ao palco. Nesta tríplice jornada estética, o reencontro com
a rebeldia da juventude parisiense no seu confronto com os maniqueísmos políticos. Na insensatez das arbitrárias destituições culturais, como a de um mistificador mor da história
cinematográfica – Henri Langlois , pai e mestre da Cinemateca Francesa.
A Paris, 1968, que poderia insinuar-se, hoje, em qualquer de nossas
cidades sob o signo de perturbadoras incertezas políticas ou das ameaças
ortodoxas aos avanços comportamentais.
Os Sonhadores, do romance de Gilbert Adair ao filme de Bertolucci , numa
readaptação homônima das páginas literárias
em singular trama dramatúrgica de Diogo Liberano, vivenciada na mágica gestualidade plástico/textual da direção de
Vinicius Arneiro.
Sobre a postura cinéfila
de três jovens que se cruzam por sessões cults subitamente suspensas , desafiando-se a si
próprios ,em tributo godardiano ( Bande à Part , 1964 ) , num coletivo ritual de
atletismo pelas salas do Louvre.
E é , assim, que o americano
Matthew( Bernardo Marinho) acaba no apartamento dos irmãos gêmeos Theo
(Igor Angelkorte) e Isabelle( Juliana David)contextualizando impulsos
poético/eróticos, em alucinados jogos lúdicos de arte e sexo.
Incesto,homossexualidade,libertinagens e contemplações, capazes de conduzir ao descompromisso e alienação pelo prazer próprio,em detrimento
do discurso revolucionário. No viver pelo viver interrompido apenas pelo susto de uma pedra atirada pela janela , em tempos de guerra que preferem
ignorar.
Este controverso libelo de pacifismo e rebeldia, de
posicionamento ou de recuo, é acentuado pelo veemente comando inventor de Vinicius
Arneiro, em sua precisa teatralização do sonho passional na metafórica luta pela
transformação.
A transcrição cenográfica ( Aurora de Campos) recria
ambientações interiorizadas e sutis de espaços habitados pelos personagens
vestidos por Graziela Bastos, num recato provocador do sequencial conflito - pureza /sensualidade - de corpos desnudos.
Onde as interferências sonoras de Tato Taborda tangenciam
psicologicamente um imagético( Allan Ribeiro) clima, sob os reflexos luminares de Rodrigo Belay, com suas cinéticas visualizações.
Meticulosas caracterizações individuais como a de Bernardo Marinho ou uma convicta entrega ao papel "fraternal", com específicos andamentos, de Juliana David e Igor Angelkorte , marcam esta paisagem afetiva de dúvidas e carências,
inquietudes e desencontros.
Acentuada, na sua compreensão do sentido da dramaturgia, com senso crítico e maturidade para um coeso elenco jovem.
Acentuada, na sua compreensão do sentido da dramaturgia, com senso crítico e maturidade para um coeso elenco jovem.
Dando, enfim, a necessária sustentação dramática à alquimia de um espetáculo, envolvente por sua surpresa cênica , interativo por sua comunicabilidade reflexiva .
OS SONHADORES está em cartaz no Oi Futuro Ipanema, quinta a domingo, às 20h. 80 minutos. Até 29 de maio.
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