FOTOS/RENATO MANGOLIN |
Quando Marguerite Yourcenar publicou seu mais celebrado romance, em
1951, quis deixar claro que o personagem real , em sua forma ficcional, não
apresentava nenhuma identificação de alter ego com a autora.
“Se optei por escrever estas Memórias de Adriano na primeira
pessoa, foi no sentido de eliminar o máximo possível qualquer intermediário,
inclusive eu. Adriano podia falar de sua vida mais firmemente e mais sutilmente
do que eu”.
Poder e solidão, amor e morte, perpassam as páginas
confessionais do livro, num metafórico e simbológico discurso literário e
histórico. Retrato sensível e criterioso do Humanismo pela memorialística voz
epistolar de um imperador romano, entre a verdade e o mito.
Como sábia lição de advertência
atemporal às insanidades e desmandos do domínio político. Através de uma singularizada
trajetória existencial, potencialmente imune aos vícios do poder, no seu
reflexivo encontro com a morte próxima.
Não só através dos relatos de governança guiados por um inovador estrategismo mas , especialmente,pela
intimista revelação do amor mítico,entre arroubos eruditos e pulsões eróticas
, pelo adolescente Antínoo.
Inez Viana impõe sua competência na qualidade de comando e no tratamento da necessária sustentação de uma
ação dramática de prevalente loquacidade literária, em seus tons de constante solilóquio . Com um sofisticado
resultado, reiterado pela imanente fisicalidade dos movimentos sugeridos
por Márcia Rubin.
A envolvência das interferências sonoras de acordes dissonantes
em teclado e cordas (João Callado/Marcello H), numa sequencia quase cerimonial, é quebrada pela introdução de canções populares italianas.
Todos os elementos desta teatralidade, sob o risco
normal de perda de maior interiorização
psico/filosófica na versão para os palcos, supera o dimensionamento
temporal da mera reconstituição ficcional de uma vida histórica.
Conduzindo, com o brilho de seu rigor
profissional, à espiritualizada inspiração do personagem em Flaubert, referenciada pela própria
Yourcenar:
MEMÓRIAS DE ADRIANO está em cartaz no Espaço Sesc/Copacabana, sexta e sábado,às 19h;domingo,às 18h. 60 minutos. Até 15 de maio.
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