FOTOS/FABIANO CAFURE |
Contrariando o conservadorismo ancestral de que para as
mulheres não existe outro bem na vida que o amor, a família e os filhos, a
escritora americana Sarah Treem propõe um olhar crítico sobre o feminismo, pelo prisma científico, em sua
peça “O Como e o Porquê”.
Foi a partir do livro “Woman:
An Intimate Geography”(Nathalie
Angier) que a autora idealizou o seu enredo
dramatúrgico, partindo das teorias da “toxicidade do esperma” e da “hipótese da
avó”, num encontro dialogal entre duas cientistas de gerações diferentes.
A estudante de pós-graduação Raquel ( Alice Steinbruck),
pesquisando “a menstruação como defesa” à invasão bactericida do esperma, busca
fundamentos na experiência comprovada da
bióloga Zelda ( Suzana Faini). Esta, por sua vez, é defensora da função geracional do
organismo feminino, através da “ Teoria da Avó”.
Percebendo radicalismos nas proposições de Raquel, mesmo assim Zelda
decide assumir seu papel de mentora. Embora, entre perguntas e respostas muitas
vezes tensas, o encontro acabe por não tocar apenas na pesquisa científica.
E alcance, assim, o dimensionamento questionador do vir a ser da condição feminina na
contemporaneidade. Onde, apesar de todos os avanços , ainda há a
prevalente insistência do poder masculino sobre a mulher quanto às hipóteses científicas por elas indagadas.
O que leva as duas personagens à alusão da necessária independência
profissional e ética desta incomoda e
invasiva interferência, muito além das
meras relações sociais e comportamentais.
E entre apaixonadas discussões, entremeadas ora por manifestações
de simpatia ora por explosivos arroubos nervosos, a súbita e impactante revelação de laços parentais
entre as duas.
Num jogo lúdico e inteligente assumido no protagonismo ímpar e diferencial destas atrizes. Quase em forma de monólogos confessionais, marcados pelo espírito da
contradição , entre carências e afetos.
Alice Steinbruck mostra
versatilidade e segurança nos andamentos singulares de seu papel, na ansiedade de uma busca convicta pela aceitação de sua verdade.
Enquanto Suzana Faini, desde a primeira cena, exorbita sua veemência dramática e seu alto virtuosismo , em teatralização carismática de
significativa envolvência emotiva.
Acentuada por uma direção e concepção cenográfica ( ambas por Paulo de
Moraes) irrepreensíveis, sabendo manter a magia da linha de reflexão do texto ao lado do inventivo domínio dos elementos técnicos - na iluminação (Maneco Quinderé),nos figurinos (Desirée Bastos) e no score musical( (Bianca Gismonti).
Com uma força alquímica capaz, enfim, de qualificar o espetáculo como uma das mais surpreendentes criações cênicas da
temporada.
O COMO E O PORQUÊ está em cartaz no Teatro Fashion Mall, São Conrado, sexta e sábado, 21h30m ; domingo, 20h. 80 minutos. Até 5 de junho .
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