Nem sempre o uso das técnicas cênicas na transposição de um
livro para os palcos é capaz de evitar os perigos da superposição pura e
simples do texto literário sobre o seu
sequencial dramatúrgico.
No caso específico do primeiro original do escritor Raphael Montes – Os Suicidas , esta problemática praticamente não existe na sua adaptação aos palcos sob o
título de Roleta Russa, por César Baptista , dublê de diretor da peça.
Partindo de um entrecho ficcional que o próprio autor idealizara, inicialmente,
como um roteiro de longa metragem , sem
quaisquer ambições de grande produção cinematográfica. Que dos primeiros
esboços acabou conduzindo a um alentado
romance policial.
O conceitual quase cinema manteve, no livro, muitos enunciados perfeitos para um
filme. E daí ao teatro, facilitou-se o percurso. Em única ambientação
cenográfica com nove personagens jovens, universitários de classe média alta, reunidos num porão , sob efeitos catalizadores de sexo, drogas e rock n’roll , direcionados, conscientemente, para um pacto coletivo de morte suicida.
Preservando o teor literário, a trama se desenvolve , com unidade dimensional e dignidade cênica, entre o delírio e a
realidade crua, pelo eficiente comando mor de César Baptista . Sem disfarces na
rudeza das palavras e na agressividade gestual, envolvendo desde atitudes
homofóbicas e síndromes mentais ao desprezível trato da condição feminina.
Onde o desenho das luzes( Luiz Antônio Faria) explicita
fisicalidades e emoções marginalizadas, ampliadas pelas incisiva coerência das incidências sonoro/musicais(César
Baptista) e o ajustado tom dos figurinos(Rodrigo Reinoso).
O elenco masculino(Dan Rosseto,Diogo Pasquim,Emerson
Grotti,Felipe Palhares, Gabriel Chadan,Helio Souto)radicaliza nos elementos
degradadores em impactante performance .
Mas prevalece também uma vibrante homogeneidade no empenho e na estilização individual dos caracteres
femininos (Lorrana Mousinho, Maria Dornelas, Virginia Caselões).
Com seu poder de comunicabilidade sob tensão e pelo olhar rigoroso sobre a transgressividade comportamental, Roleta Russa é, enfim, uma exemplar incursão estética na anarquia, na desordem dos valores e no nosso caos cotidiano.
ROLETA RUSSA cumpriu temporada no Teatro Net/Copacabana, todas as quintas feiras do mês de abril, às 21h. 100 minutos.
A peça volta ao cartaz de 18 de maio a 16 de junho, quartas e quintas, 20h, no Teatro Maria Clara Machado, Planetário da Gávea.
ROLETA RUSSA cumpriu temporada no Teatro Net/Copacabana, todas as quintas feiras do mês de abril, às 21h. 100 minutos.
A peça volta ao cartaz de 18 de maio a 16 de junho, quartas e quintas, 20h, no Teatro Maria Clara Machado, Planetário da Gávea.
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