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FOTOS BY THYAGO ANDRADE |
Escrita em 1927, por encomenda da Comédie Française, A Voz Humana teve sua première em
1930, com a prestigiada performance de Berthe Bovy. O texto ,de Jean Cocteau, tinha seu referencial na exaltação, dos
movimentos dadaísta e futurista, aos objetos e à tecnologia.
Sua trama dramatúrgica , com menos de uma hora, mostra uma mulher
em seu leito e que, abandonada pelo amante, tem seu olhar armado no toque de um aparelho de
telefone. Que pode surpreendê-la, a qualquer momento, pela voz do homem que ela
ainda ama mas que a deixou por outra mulher.
Na época de sua criação, poeticamente entremeado de silêncios,
ausências, pausas , esperas, configurava um monólogo ou um solilóquio de uma
atriz dialogando com a própria voz,
diante de uma metafórica sonoridade mecânica que não se pode ouvir.
E foi esta marca estética que apressou a sua transformação em
ópera(1959), com a partitura de Francis
Poulenc. Que, na sua densidade orquestral, possibilitava devaneios sensuais ,
no confronto da contextualização teatral de uma atriz com o canto lírico de uma soprano.
Mas alcançou ,também, o
cinema ( Rosselini com Anna Magnani),teve em Simone Signoret uma intérprete
idealizada e, no Brasil, inaugurou a
sede do Teatro Brasileiro de Comédia (1948), no original francês , através de Henriette
Morineau.
A concepção de José Lavigne replica , com inventiva
sensibilidade , as indicações de Cocteau na sua sugestão de uma atriz que
inspire charme, elegância e jovialidade mas que, mesmo assim, é desprezada pelo
amante.
Esta identificação, em
Cláudia Ohana , é absoluta e ,assim, sua
presença se expande em cena. Sabendo valorizar com intensidade, entre loquacidades e
subentendidos, todos os contornos de seu personagem de
ansiosa e sofrida solidão.
O sóbrio requinte do figurino( Carla Garan), paralelo a uma iluminação ( Felipe Lourenço) de claridades
e cores, completa o belo impacto visual da arquitetura cenográfica(Edgar
Duvivier) . Contrastando o onirismo do painel ao fundo com uma encenação de visível
realismo.
O conciso texto que abre e fecha o espetáculo, interioriza a
aparente simplicidade do núcleo dramatúrgico, na simbologia de um aparelho
marcado pela sua ancestralidade, de
primitiva tecnologia .
Mas que, no seu diálogo com a voz humana se torna imune à passagem
do tempo, na evocativa transmutação, pelos recursos da contemporaneidade
virtual ,dos eternos conflitos da
incomunicabilidade dos amores perdidos.
A VOZ HUMANA está em cartaz no Teatro Clara Nunes, Gávea, sábado, às 19h;domingo, às 18h. 50 minutos. Até 20 de dezembro.
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