FOTOS/DIEGO BRESANI/OLÍVIA PROENÇA/THIAGO SABINO |
O Teatro do Concreto, uma já conhecida companhia brasiliense por seus experimentos dramatúrgicos, faz temporada em terras cariocas com a original proposta de Entrepartidas, a partir de uma concepção de Jonathan Andrade, sob o comando diretorial de Francis Wilker.
Num
mimético enquadramento estético do espetáculo, poder-se ia aplicar a ele duas
possíveis classificações – do chamado Teatro Ambiental ( imaginado por
Schechner) ou o Teatro Espontâneo de Kantor , ambos na quebra de limites entre
o espectador e a performance. Sem nunca
privilegiar o ator no estabelecimento de novos espaços físicos e relações
psicológicas, na total interatividade de observado/observador.
Ou,talvez,simplificando esta formatação, numa aproximativa fisicalidade/emotividade,
como se desenvolve comumente o teatro de rua. Mas, aqui, sempre com a pulsão de
estimular a plateia ao abandono de seu imobilismo diante da representação compartilhada, na sua integralidade, com o espaço urbano.
Em
que cada um se sinta participante da emoção coletiva que surpreende, a cada
instante, o mero transeunte ou citadino que se confunde com o corpo cênico.
Pois é assim este sequencial de uma dramaturgia, sem quaisquer rigorismos narrativos e sujeita a
um sensorial improviso.
Quando
o ator transforma seu personagem numa experiência humana viva para os passantes
, como curiosos ou testemunhas de um fato que desconhecem ser teatralizado.
Desde o ponto de partida do ônibus, que conduzirá seus ocupantes /espectadores a
uma viagem inusitada por ruas, becos e praças de Botafogo.
Ali,
defronte ao pórtico central do cemitério São João Baptista, um casal de atores
discute, nervosamente, com um sotaque tão verista, que as ameaças de agressão
física levam os transeuntes e motoqueiros, a uma quase intervenção com fins de
apaziguamento.
No
interior do transporte, no volante, um também ator com suas prédicas
instrucionais aos passageiros. Surpresos, na visualização, pelas janelas, de acontecências externas, com um “engano
realístico” na autenticidade a elas imprimida por outros integrantes do elenco.
A
seguir, os espectadores ,na cena de maior envolvência, descem numa praça. Onde
se cruza um casal de atores, com risíveis juras de amor ,confundindo-se, em sua
indumentária e posturas, com moradores
de rua. Via lúdicas interferências musicais e circenses, num sensitivo gestual
felliniano/pirandelliano, em que a adesão dos mendigos seria a percepção
especular de si mesmos.
Neste
processo criativo, desprovido de aparatos técnicos, a partir de uma linha
dramática apenas indicativa, é dada ao elenco uma “força psíquica” coletiva,
libertária e capaz de propiciar a eclosão de inventivas individualizações na
sua comunicabilidade como artistas.
Recuperando,
ainda, a ancestral aura mágica da teatralidade como um palco da vida, onde ,afinal, somos todos atores, com hora para começar e para sair de cena, nestas eternas Entrepartidas da
condição humana.
Wagner Corrêa de Araújo
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