CIA NACIONAL DA ÓPERA DE PEQUIM : SOB SUA DIFERENCIAL ESTÉTICA CONECTANDO MÚSICA, DANÇA, FALAS TEATRAIS E PERFORMANCES ACROBÁTICAS


Companhia Nacional da Ópera de Pequim. Wei Lyun/Diretor Artístico. Novembro/2024. Fotos/Divulgação.

 

Embora o formato que moldou esteticamente a Ópera de Pequim, prevalente até hoje, tenha sido estabelecido, através da corte imperial chinesa, desde o final do século XVIII, suas bases temáticas, sonoras e gestuais se originam de tradições milenares. Tendo sido radicalmente interrompido no período maoísta da Revolução Cultural, com seus direcionamentos ideológicos e narrativos voltados apenas a temas patrióticos que envolvessem os grandes feitos do Exército de Libertação Popular.

Depois deste conturbado período que, inclusive, obrigou o afastamento em campos de trabalho forçado de muitos dos artistas resistentes da Ópera de Pequim, novos tempos vieram com a retomada de seus ancestrais espetáculos. Sucedendo-se em frequentes turnês artísticas pelo mundo ocidental, registros cinematográficos e muitos estudos apurados, o mais destacado deles de autoria de Alexandra B. Bonds (Beijing Opera Costumes) publicado em 2019 e ainda não traduzido no Brasil.

Por todos estes motivos é um privilégio ter assistido às recentes apresentações no país (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) da conceituada Companhia Nacional da Ópera de Pequim que apresentou nesta rápida turnê,  em espetáculo único, três exemplares em versões mais condensadas de obras do seu repertório :  A Encruzilhada, A Donzela Celestial Espalhando Flores e O Roubo da Erva Mágica.


Companhia Nacional da Ópera de Pequim. As Mulheres Generais da Família Yang. Novembro/2024. Fotos/Divulgação.


E, na segunda parte, uma peça musical considerada um dos seus grandes clássicos – As Mulheres Generais da Família Yang - reunindo todos os cantores/atores, alguns deles em papéis apenas figurativos, além dos seus onze músicos ao vivo.

Os enredos de cada uma delas recorrendo a um universo fabulário regido pelos princípios morais e comportamentais budistas e taoístas, mostrando personagens que tem como lema existencial a destemida luta pela valoração das crenças e costumes populares.

Representadas por guerreiros homens e mulheres, sem distinção de sexualidade, empenhando-se cada um deles em papéis heróicos e marciais contra todas as manifestações do mal, sem deixar de lado também romantizadas histórias que fascinam os chineses por gerações.

Mesmo que não se fixem mais nos extremismos da era maoísta, há sempre uma inspiração nacionalista conectada não só às raízes históricas como também ao orgulho da China ter se transformado numa das mais influentes nações do planeta. E por incrível que possa parecer é através disto, no que se refere às composições musicais de apelo patriótico, onde os acordes se tornam mais palatáveis aos ouvintes acostumados ao bel canto.

Já que o acompanhamento orquestral chinês usual é normalmente feito, em sua maioria, por instrumentos asiáticos com sonoridades percussivas, cordas menos harmônicas e cantares nasalizados e guturais chegando a sugestionar, até mesmo, uma certa proximidade com ganidos.

Onde o grande atrativo estético para os espectadores ocidentais está na sua requintada indumentária, com seus figurinos pesados mas vistosos, confeccionados artesanalmente para figurar uma plasticidade milenar de extremo bom gosto e elegância. O que faz, por tais exigências, com que sejam usados obrigatóriamente por gerações de artistas em inúmeras performances, nunca sendo descartados.

Destacando-se ainda, em caráter especial, o detalhado visagismo facial, a pantomima e uma mais que sofisticada linguagem gestual, onde impressiona a precisão detalhista e estilizada dos braços e das mãos. Embora, ao mesmo tempo, todos os intérpretes se apresentem como exímios artistas - acrobatas em movimentos energizados que remetem às lutas marciais.

Tudo isto realizado com tal maestria que a ausência de elementos cenográficos é abstraída pela própria representação performática que por si só sugestiona, abstratamente, o desenvolvimento do enredo na sua envolvência palco/plateia. Em espetáculo que está abrindo perspectivas, impulsionadas com o recente acordo cultural Brasil/China, anunciando-se já para 2025 o celebrado Balé Nacional da China...

 

                                                Wagner Corrêa de Araújo

 

A Companhia Nacional da Ópera de Pequim, uma iniciativa da temporada 2024 Dellarte, apresentou-se em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, de 15 a 21 de novembro.


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