Como Sobrevivi a Mim Mesma Nesta Quarentena. Atuação e dramaturgia/Rita Fischer. Setembro/2022. Fotos/Léo Dalledone. |
Nesta contagem regressiva pela esperança de melhores tempos políticos e culturais para resgatar um
país mergulhado numa temível crise de identidade, ao lado do pânico provocado
por época pandêmica, nada melhor que lavar a alma com humor irreverente direcionado
por uma lúdica reflexão de vida.
E é esta a proposta da envolvente e assumidamente despudorada
narrativa dramatúrgica/autoral da atriz Rita Fischer em Como Sobrevivi a Mim Mesma Nesta Quarentena, originalmente pensada
e alinhavada por ela como um teatro virtual e, agora, chegando finalmente aos palcos,
com uma funcional direção de Thiago Bomilcar Braga.
Para alguns talvez soando como algo desgastado, de volta a uma
temática "déjà vu", mas conceitualmente
ainda bastante oportuna, especialmente neste período de campanha eleitoral. Diante da similar ansiedade, como no confinamento, por
uma mudança de ares, em extensiva equivalência dos dois anos pandêmicos aos
quatro de retrocesso à causa de uma equivocada (des)governança.
Sob a sensação do isolamento e da solidão em compasso de uma quase prisão domiciliar, a que fomos obrigados por questões de segurança sanitária evitando o risco de sermos, quem sabe, a próxima vitima na estatística terminal provocada pela Covid.
Como Sobrevivi a Mim Mesma Nesta Quarentena. Com Rita Fischer. Direção de Thiago Bomilcar Braga. Setembro/22. Fotos/ Léo Dalledone. |
O que Rita Fischer, com seu reconhecido talento histriônico, imprime a uma comédia da vida privada (em orientação dramatúrgica de Cristina Fagundes), a partir de sua experiência de reclusa, sozinha em apartamento, no enfrentamento da neurótica ameaça de vírus ocultos, na decorrência dos proibitivos contatos externos, à paranoia de que estariam até mesmo no ar que respirava.
Aqui, em caixa cênica minimalista e preenchida apenas com uma
cadeira, pelas luzes vazadas de Jack Santtoro e um levíssimo figurino cotidiano
por Sophia Linhares, além de simbólico borrifador de álcool ao qual, com ironia
crítica, ela recorre vez por outra.
Tornando ludicamente risíveis os dias de caos social, medo residencial e surto psíquico numa
escritura cênica naturalista que ela transmuta em divertida performance, não
abdicando de exprimir-se por palavrões em atrevidas situações causadas pelo
forçado, e naquele momento quase impositivo, abstencionismo sexual.
Contrapondo desejos reprimidos e posturas erotizadas através de
um sotaque nostálgico, no entremeio dos acordes de poesia e paixão, em canções
na voz de Edith Piaf. Que dão motivo a um gestualismo de teor coreográfico,
equilibrado entre passagens sensorialmente românticas e energizada pulsão performática.
Em espetáculo despretensioso mas que certamente, em sua singular urdidura de potencial comunicabilidade interativa atriz/espectador, está a merecer uma extensão de temporada, na fabular
justificativa de que rir ainda é o melhor remédio para os nossos sempre eternos
dissabores ...
Como Sobrevivi a Mim Mesma Nesta Quarentena em
cartaz no Espaço Provocações/Shopping
Barra Point, todas as sextas feiras de setembro, sempre às 20h.
Um comentário:
Excelente o seu texto.
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