Duetos, de Peter Quilter. Com Patricia Travassos e Marcelo Faria. Agosto/2022. Fotos/André Wanderley. |
Não indo muito longe, há de se lembrar que o celebrado dramaturgo
inglês Peter Quilter já abrilhantou os nossos palcos, além de ter andado pelas telas brasileiras, com versões de duas de suas peças
mais queridas pelo público e pela crítica.
Em 2019, com o grande campeão do Oscar – Judy (a partir do original End
of the Rainbow (antecipado na releitura em musical de 2011, por Cláudio
Botelho) e Florence Foster, o filme
de 2016. Em outra bem sucedida adaptação do diretor carioca a partir de Glorious, desta vez em 2009, num dos
maiores êxitos da trajetória de Marília Pera.
Mas Duetos, outro
dos sucessos de Quilter, vem desde
sua estreia há treze anos, alcançando a cena global e, agora, chega finalmente ao
Brasil, sob a artesanal direção de Ernesto Piccolo na escolha de dois craques
do teatro, da televisão e do cinema, Patrícia Travassos e Marcelo Faria.
Numa acurada produção para o gênero comédia romântica reunindo
além destes cotados nomes, uma potencial equipe de criadores. Estamos falando é
claro de gente como Claudio Tovar que enriquece a caixa cênica (em originalíssima concepção de J. C. Serroni
trazendo os camarins para o palco) com os fantasiosos recortes e delírios
psicodélicos de seus figurinos.
Sem esquecer dos climáticos efeitos psicofísicos proporcionados
pelas luzes de Aurélio de Simoni e pelas
incidências musicais de Rodrigo Penna, em perfeita consonância com o
gestualismo imprimido aos atores por Daniella Visco.
Duetos. Ernesto Piccolo, direção. Agosto/setembro 2022. Fotos de cena /Felipe Costa. |
A peça, concebida pelo autor com uma certa liberalidade que ele
próprio sugestiona na ambientação e nas referências locais de cada uma das estórias, extensiva
à ideia destas serem apresentadas em similar formatação dúplice de dois mesmos interpretes ou por uma diversidade performática.
Onde cada uma destas vinhetas ou esquetes por seu dimensionamento
conflituoso dos relacionamentos amorosos, afetivos e, sobretudo, humanos, pode
ter um direcionamento variado, na entrega absoluta como é, aqui, assumida pelos atores Patrícia Travassos e Marcelo
Faria em caracterizações de exemplar habilidade atoral, na sua envolvência do humor à teatralidade.
Pela aceitação transcendente de cada uma destas narrativas pelo espectador, mesmo que, subliminarmente, possa ele se sentir mais, ou talvez menos, tocado em sua
identificação emotiva, seja pelo lado receptivo do feminino/masculino ou pelo
referencial gay que ali também aparece.
Ainda que perpasse, na temporalidade instantânea de cada uma
delas, um certo superficialismo na abordagem irreverente do comportamental cotidiano.
Indo da busca ansiosa pelo preenchimento da solidão, na aventura dos encontros presenciais
por aplicativos, ao desgaste da relação conjugal em clima de despedida numa
viagem de férias.
Complementada nos episódios sequenciais, com duas situações
mais propositalmente inusitadas e quase em compasso de certa
absurdidade teatral, quando uma secretária em anos de convivência profissional ao lado do seu
patrão, assumidamente gay, insiste numa afetividade de conectiva corporeidade
por ele.
Ou de uma noiva na terceira tentativa matrimonial, fazendo-se
acompanhar, na cerimonia de núpcias, mais uma vez pelo irmão, no entremeio de supersticiosos
medos e crenças. Atirando-se na imprevisibilidade espacial, sob a metaforização
de um abusado vestido de noiva mais próximo do conceitual plástico de um paraquedas...
Onde há que se destacar o uso carismático dos ingredientes agridoces
de uma comédia da vida privada que o comando diretorial de Ernesto Piccolo faz alcançar nestes Duetos. Privilegiando o riso sob o entorno da irracionalidade dos relacionamentos humanos sabendo
dosar, com rompante simpatia cênica, os lugares comuns do amor...
Wagner Corrêa de Araújo
Duetos está em cartaz no Teatro das Artes/Shopping da Gávea,
sextas e sábados, às 21h, domingos às 20h. Até o dia 02 de outubro.
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