Tal Vez / Cia de Ballet Dalal Achcar. Coreografia - Alex Neoral. Abril 2022. Fotos/Márcia Ribeiro |
Neste respirar de novos ares, com o fim da reclusão pandêmica,
os palcos cariocas revelam a estreia simultânea de mais duas de suas reconhecidas
cias de danças – Cia de Ballet Dalal
Achcar e Renato Vieira Cia de Dança
– em espetáculos surpreendentes por seu conceitual estético/coreográfico.
A começar pela Cia de Ballet
Dalal Achcar que, através de sua diretora/coreógrafa, teve a boa e bela ideia de confiar na habitual competência criativa de Alex Neoral – o mentor da Focus Cia de Dança – para idealizar uma
concepção coreográfica exclusiva para os seus 18 jovens bailarinos.
Espetáculo que foi titulado simbolicamente de Tal Vez, numa lúdica aliteração vocabular
com dúplice significado, em seu referencial de desafio à solidão humana, perceptivelmente ampliada no isolamento forçado de dois anos pandêmicos e confrontada diante do desejo pela
busca dos encontros perdidos.
Numa tematização
metafórica de um baile acompanhado por melodiosos acordes de antigas canções de
sucesso sob um repertório de prevalência nostálgica, provocando lembranças e evocando
saudades.
Dimensionada através da trajetória expositiva de gêneros cantantes
ora românticos, ora melodramáticos, ora dançantes, num apanhado memorial de
paixões e desencontros, brigas e reconciliações, em duplo oficio de Alex
Neoral como coreógrafo e responsável pelo roteiro musical.
Cia de Ballet Dalal Achcar / Tal Vez. Coreografia e Roteiro Musical/Alex Neoral. Abril 2022. |
Onde a caixa cênica, em original concepção de Natalia Lana, é
preenchida por jogos de cortinas em diversos planos, provocando uma
plasticidade funcional capaz de sugestionar, sobre o acertado jogo de projeções e luzes
aquareladas (Paulo Cesar Medeiros), uma atmosfera de sonhos e delírios quase surreal.
E o figurino de João Pimenta, através da coloração das malhas e dos cetins esvoaçantes, numa abrangente extensão desta fantasia. Inicializado em tons soturnos na entrada hierática dos
bailarinos, cobertos por capas formais, apresentando sutilmente traços de sua indumentária idealizada para o musical Romeu e Julieta.
Em peças de vestuário superpostas e que vão sendo despojadas na climatização
de um psicodelismo tropicalista, entremeado ora com tonalidades vibrantes, ora ironicamente
melancolizado pelas variações luminares.
Tudo convergindo numa sequência de citações cênicas sob
recortes cinéticos, de estilizações musicais/teatrais como revistas, teatro cabaré, music hall e musicais de palco ou cinematográficos, de várias épocas e lugares. Numa dramaturgia da fisicalidade sincronizando movimentos rítmicos, antenados na contemporaneidade de uma linguagem com eficaz aproveitamento da base clássica dos bailarinos.
Traduzida num vocabulário gestual pulsante em sua
corporeidade coreográfica, de energizados quadros coletivos a introspectivos solos
e duos, expressando performáticas reações emotivas ou críticas, conectadas no teor
simbológico das palavras cantadas.
Para, assim, viabilizar este Tal Vez, evidenciado na qualificada convergência de seus elementos
técnicos e artísticos, do convicto desempenho de seu corpo dançante ao
potencializado destaque de sua concepção cênico/coreográfica, no cuidado artesanal
do olhar de Alex Neoral.
Ritualizado no compartilhar sensorial palco e plateia, bailarinos
e espectadores, como um singular teatro coreográfico, sob um sutil sotaque a la
Pina Bausch. E, “talvez”,
representando um sinal de estar chegando a “Tal Vez” do despertar de um
pesadelo político/cultural que parece não ter mais fim...
Wagner Corrêa de Araújo
Um comentário:
Adoraria ver (não sei se vai dar...). D.Dalal é a melhor coreógrafa fo Brasil, na minha opinião!🤩
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