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FOTOS/LENISE PINHEIRO |
“Azul ou rosa” não importa quando a expectativa é
por quem irá habitar aquele quarto e ocupar um berço modulado no entremeio de aquarelada
afetividade para um primogênito.
E se, de repente, houver supresa com má sorte, na ambiguidade da sobrevida
de um filho sob contexto de uma insolúvel síndrome físico/mental, quase sempre por
um fio e, ainda, destinado à rejeição social?...
Pois foi assim com Olívia Byington, um susto de corte laminar na inicialização da maternidade, um curto circuito na energia de seus 22 anos e no processo de promissora trajetória de cantora, no entremeio de incessantes agruras nas sequenciais idas
e voltas a centros cirúrgicos.
Mas falou mais alto a coragem, ficou incólume o instinto artístico, neste ingrato oficio de genitora
nos desafios cotidianos pela salvação do menino João. Que, sob sua guarda e dedicação irrestrita, atravessou três décadas, e, enfim, resistiu...
E é, exatamente, o
livro referencial, escrito por ela em
2016, sobre o caso cirúrgico do filho com o raríssimo mal de Apert, que serviu como ideário para esta sensitiva versão dramatúrgica de Renata Mizrahi, com igual titularidade – “O Que É Que Ele Tem”. No comando diretorial de Fernando
Philbert, em formato de um monólogo com a atriz Louise Cardoso.
Abordagem que remete nos palcos, já há algum tempo, à lembrança de um outro solilóquio, em aplaudida concepção de Daniel
Herz para o livro de Cristóvão Tezza - O
Filho Eterno, sobre outra síndrome
(a de Down) para a vida inteira destes nascituros sem culpa pelo legado de uma mutação genética, com seus áridos efeitos mentais e seus atrozes distúrbios na corporeidade.
Também aqui, a teatralidade acontecendo em formatação similar sob o signo do despojamento cênico. Com prevalência de uma narrativa confessional destinada a um solo atoral em cena minimalista, para convergir mentes e corações, palco e platéia, no dimensionamento psicológico de uma quase auto/ficção, com suas nuances de delírio, assombro e comiseração.
Também aqui, a teatralidade acontecendo em formatação similar sob o signo do despojamento cênico. Com prevalência de uma narrativa confessional destinada a um solo atoral em cena minimalista, para convergir mentes e corações, palco e platéia, no dimensionamento psicológico de uma quase auto/ficção, com suas nuances de delírio, assombro e comiseração.
Uma tematização sob permanente risco do previsível à beira da piedade e do melodramático mas que a linguagem literária da autora evita, a todo custo, replicando forças de animo e superação no contraponto da simples vitimização.
Em simpática e comovente entrega de Louise Cardoso, numa indumentária (Rita Murtinho) básica, ao
personagem que ela compartilha, em sensorial dialetação com o público, numa substantiva
textualidade e em espontânea gestualidade( Márcia Rubin), mesmo que esta última, por vezes, interfira num tom acima.
E que a direção assume, entre episódicos descompassos na progressão dramática, imprimindo perceptível coloquialidade e discricionário tratamento tragicômico do
sentimentalismo, à luz de um destes adversos destinos
humanos, sinalizados já na pós gestação.
Com o suporte de um plástico videografismo (Rico e
Renato Vilarouca) que estetiza-se no recatado aporte cenográfico (Natalia
Lana). Sob um desenho de luz (Vilmar Olos) ambiental e de singular score sonoro
(Marcelo Alonso Neves) inspirado no repertório musical de Bianca Byington.
Em espetáculo despretensioso na sua escritura simples, direta
e seca, mas pleno de sinceridade na sua transmissão de um necessário recado, capaz de conduzir a uma postura reflexiva
sobre a importância da inclusão e da identidade social para tôdas e quaisquer diferenças.
Wagner Corrêa de Araújo
“O Que É Que Ele Tem” está em cartaz
no Teatro Maison de France/Centro/RJ, quinta às 17h30m; sexta e sábado, às
19h30m;domingo, às 18h30m. 70 minutos. Até 24 de fevereiro.
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