FOTOS/ GUTO MUNIZ |
Desde os anos noventa, a Mimulus
Cia de Dança vem priorizando uma proposta singular de retomada do
tradicional repertório das danças de salão mas sempre com o olhar armado na
contemporaneidade.
Em seu lastro original da mineiridade, também como o Grupo Corpo, a sua base de
apoio é Belo Horizonte, de onde vem
irradiando seu ideal coreográfico de redescoberta inventiva de uma dança popular de raízes brasileiras.
Na sua mais recente
criação - Pretérito Imperfeito - a
Cia faz uma espécie de inventário estético de sua trajetória num mergulho
memorialístico. Uma prestação de contas sobre seu acervo artístico num elo
especular ,entre pesos e medidas, sobre
os resultados desta sua verve
investigativa.
O espetáculo é marcado, inicialmente, por signos indicadores da passagem das horas –
metrônomos, ampulhetas, relógios, álbuns de retratos ou janelas abertas a uma paisagem de recordações - sutis mas pesarosos desnudadores desta fugaz temporalidade do “Pretérito Imperfeito” de todos nós.
Ratificado, metaforicamente, por uma trilha musical centenária que inclui, entre
outros, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Ary Barroso, Alberto Nepomuceno,
Villa-Lobos, contrapondo, em inspirados
arranjos camerísticos, o popular e o clássico,
a ancestralidade e os novos valores.
Esta reidentificação com a lembrança e a memória refaz as
trilhas percorridas, num nostálgico mas
lúdico conluio entre o ontem e o hoje, entre os bailarinos e o público, no registro de recados em
papeis fragmentados e que, unidos plasticamente, compõe um sensorial mural cenográfico.
Num recorte das danças urbanas, da domesticidade dos saraus
familiares às confraternizações sociais dos bailes, com seu vocabulário
próprio de prevalência de duos ou casais
, mas com um feeling diferenciado e
enérgico nas linhas coreográficas de Jomar Mesquita.
Danças, ora cadenciadas em prazerosa e pulsante gestualidade
corporal, ora de melancolizada envolvência ou de sensível espontaneidade como na bela
transcrição de um romantizado Villa Lobos, na
Valsa da Dor. Sustentada sempre em recatado aporte cênico, com figurinos(Baby Mesquita) de beleza cotidiana e luzes
ambientalistas (Ed Andrade).
Cumprem, aqui, estas figuras dançantes (Andrea Pinheiro/Jomar
Mesquita/Juliana Macedo/Lorena Tófani/Murilo Borges/Rodrigo de Castro/Rodrigo
Schifini/Sofia Gonzalez) , na sua apurada entrega interpretativa, um lavor técnico/reflexivo.
Transcendendo, assim, os limites do tempo verbal deste Pretérito Imperfeito, em significante devir artístico e
existencial.
MIMULUS CIA DE DANÇA , apresentou-se no Theatro Municipal RJ, sábado, 10 de setembro, às 20h, com o espetáculo PRETÉRITO IMPERFEITO, seguindo em temporada nacional.
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