SANTA , TEATRO COREOGRÁFICO
Diante de um previsível questionamento classificatório do
público pelo espetáculo Santa, com dramaturgia de Diogo Liberano, face à sua
multiplicidade de linguagens artísticas, algumas reflexões como possíveis
saídas.
O confronto com o elemento teatral propriamente dito, na
experimentação predominante do aporte coreográfico da proposta, ao lado da
força visual da arquitetura cênica ( Bia Junqueira) lembrando uma instalação
plástica ,não anula e ,sim, é o elemento propulsor da proposta dramatúrgica.
A trama narrativa ,conceitualmente de teor poético, se
estrutura numa sequencia fragmentaria de solilóquios ,de nuance memorialista,
no enfoque das lembranças afetivo/eróticas da relação de um homem( Guilherme
Leme Garcia) e de uma mulher ( Angela Vieira),situada entre o passado e o
presente.
E o desenvolvimento gestual/coreográfico (Luar Maria) é o
fluxo condutor da exteriorização do que Martha Graham chamava em suas obras de
“atormentadas sondagens psíquicas”. Assim esta “dança teatral” aparece
realmente como o fator indissociável, entre o ator e o bailarino, na expositiva
definição dos amantes/personagens.
A condução de Guilherme Leme Garcia encontra o equilíbrio
idealizado desta linguagem corporal, às vezes, de alcance
mais imediato que a verbalização das lembranças felizes e
das queixas em torno dos silêncios e das ausências.
E os atores, na soma de suas experiências e trajetórias no
duplo universo coreográfico/teatral, enunciam ,na entrega emotiva ,a total
envolvência num jogo de imagens e palavras, do distanciamento contemplativo aos
rarificados toques físicos quando dançam juntos.
A música incidental ( Marcello H/Marcelo Vig) se apoia na
precisa divisão entre sonoridades instrumentais, cancioneiro popular brasileiro
(Martinália) e referencial a la Broadway. Enquanto a iluminação ( Tomás Ribas)
favorece o clima ambiental no deslocamento, por correntes de ar , dos elementos
cenográficos ( em material plástico) de impactante sensorialidade.
O autor Diogo Liberano, que vem se distinguindo pela
singularidade personalista na busca de caminhos novos para a escrita cênica(
como no recente O Narrador), com “Santa” promove a exploração dos limites e
aproximações entre o teatro e a dança.
E, no desvendar nesse fascinante universo, começará
certamente a "interagir" com os ideólogos desta fonte estética, ora
na justificativa mimetização dança/teatro em Maurice Bejart ( “a dança é parte
do teatro”) ora na simbologia filosófica do teatro coreográfico de R. Von Laban
( “o movimento é uma manifestação exterior de um sentimento interior”).
WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO
4 comentários:
SANTA está em cartaz no Espaço Tom Jobim, Jardim Botânico, sabados, às 21h; domingos, às 19hs.
SANTA está em cartaz no Espaço Tom Jobim, Jardim Botânico, sábados, às 21h; domingos, às 19hs.
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