NUM LAGO DOURADO: COMO A PREVISIBILIDADE DA PASSAGEM DO TEMPO


FOTOS/ JOÃO CALDAS

Sucesso comercial dos anos 80, mais por seu apelo melodramático que pelo aplauso da critica, Num Lago Dourado , de Mark Rydell, era a versão fílmica de uma peça de Ernest Thompson  que,agora, volta aos palcos brasileiros na concepção diretorial de Elias Andreato.

Emblemático por significar um acerto de contas da Academia de Hollywood com o primeiro e último Oscar concedido a Henry Fonda que, enfim,  o recebeu  já em sua internação hospitalar derradeira, em 1982. E também pela mesma premiação,  extensiva às despedidas cinematográficas de sua partner Katharine Hepburn.

Nesta segunda montagem, quinze anos depois da que reuniu Nathalia Timberg /Paulo Gracindo sob o comando de Gracindo Jr.,acentuou-se uma nuance mais bem humorada para evitar o apelo da tematização patética das agruras da velhice diante da terminalidade existencial.

Às vésperas de seu natalício octogenário o professor aposentado Norman(Ary Fontoura) modera seus já habituais achaques de rabugice na companhia de sua mulher Ethel( Ana Lúcia Torre) que, no seu animado apego à vida, o estimula a deixar de lado o insistente pessimismo.

Levando-o, inclusive, a relativizar as mágoas, de uma vida inteira, com Chelsea((Tatiana de Marca), a filha do casal que, na sua visita à aprazível casa paterna às margens de um lago e de um verdejante parque, traz o namorado/dentista Bill Ray(André Garolli) junto ao filho adolescente Bill Ray Jr(Lucas Abdo).

Onde, antecipando a expectativa destes hóspedes,o par de idosos é surpreendido, vez por outra, pelo carteiro local ( Fabiano Augusto) que, ao trazer a mala  postal, faz referências à sua frustrada paixão juvenil por Chelsea.

Com  traços de óbvia pieguice, no entremeio de uma narrativa dramatúrgica, carregada de previsibilidades, sobre o confronto destas personagens anciãs com outras de gerações diversas, potencializado na linguagem comportamental de um garoto (Bill) recorrente às gírias e"virtualmente" mentalizado.

Mas que é funcionalmente bem dimensionada,em clima de superficial realismo psicológico e um ironizado olhar , entre o risível e o sentimentalismo quase lacrimal, pelo direcionamento imprimido por Elias Andreato.

Ampliado na exacerbação do naturalismo cenográfico(Marco Lima) de preciosismo decorativo,sob“douradas”nuances luminares( Wagner Freire), no tom clichê da indumentária (Fause Haten) e nas  incidências de melancólicos acordes melódicos (Miguel Briamonte). 

No uso de todos os ingredientes de uma sessão da tarde, sem esquecer, é claro, a organicidade de seu elenco em sua entrega à representação deste retrato familiar  de um cotidiano de proximidade e de fácil identificação com cada espectador. Dos papéis  coadjuvantes, de grande ou menor relevância, ao convicto contraponto dos embates destes com ou entre as protagonizações. 

Através da performance de Ana Lúcia Torre nos seu rounds dialetais com a personificação,de maior favorecimento carismático, assumida por Ary Fontoura, Num Lago Dourado torna-se, de imediato, invicto na sua pulsão emotiva  e, assim,  não tem como perder a adesão empática de um público cronometrado dos oito aos oitenta. 

                                                   Wagner Corrêa de Araujo 


NUM LAGO DOURADO está em cartaz no Teatro dos Quatro/Shopping da Gávea, sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h. 90 minutos. Até 17 de dezembro.

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