FOTOS/SÉRGIO BAIA |
O mítico Narciso está de volta , presente , quase como elo
propulsor inconsciente no universo da cibercultura, com a especular postagem,
textual e visual ,de vidas privadas nas redes sociais.
Diante da solidão e da incomunicabilidade da realidade
tecnológica contemporânea, enclausurados nos bunkers domésticos da mídia
virtual, há uma catártico anseio destes "narcisos" serem
identificados e admirados pela "beleza " de seus auto - retratos no
cotidiano. Sempre compartilhados, sem limites e disfarces, entre seus iguais.
Quando “Selfie”, o
oportuno texto dramatúrgico de Daniela Ocampo, ironiza a memória humana
armazenada em computadores, ao mesmo tempo, acerta ao aliar o riso ao
questionamento filosófico deste traço da nossa contemporaneidade.
Impulsionado, ainda, pelo olhar armado da direção ( Marcos
Caruso) no alcance do ponto exato de equilíbrio, entre o humor inteligente e a
dimensão estética, direcionados à interatividade lúdica e reflexiva da platéia.
E é nesta realidade cibernética que Cláudio( Mateus Solano)
encontra seu própria razão de existir, até o momento em que perde todo o seu
referencial biográfico/social numa pane de seus computadores.
Sai, então, pela recomposição de seus dados, ao reencontro de
onze personagens desconectados, todos protagonizados por um mesmo ator (Miguel
Thiré).
Na intencional performance com nuances de pantomima, os dois
atores se destacam pelo versátil uso de recursos óticos e auditivos, além da
loquacidade verbal ideal.
Ressaltados pela uniformidade dos figurinos(Sol Azulay ),
pelo original score sonoro( Lincoln Vargas) e movimentação corporal(Arlindo
Teixeira), além de uma iluminação quase cinema(Felipe Lourenço).
Falando ao olhos pela força mimética da dupla performance, na
sua proximidade com o gestual burlesco, Selfie remete a um mix da linguagem
chapliniana e do design fílmico de Jacques Tati.
Atingindo, enfim, a simbológica contradição das viagens
internáuticas, no seu visível superficialismo virtual externo e no vazio
vaidoso do “selfie” , capaz apenas de
nos fazer apaixonar pela visualizante imagem de nós mesmos.
SELFIE está em cartaz no Teatro Renaissance,Jardins,São Paulo, sextas às 21h30m: sábados, às 20h30m e 22h30m; domingos, às 18h3om. 70 minutos. Até 18 de Dezembro.
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