JUDY – O ARCO IRIS É AQUI : OU QUANDO NASCEM AS ESTRELAS

 

Judy -O Arco-Íris é Aqui. Com Luciana Braga. Junho de 2022. Foto/Beti Niemeyer.


A propósito do "star system" afirma Edgar Morin, em seu livro As Estrelas Mito e Sedução no Cinema : “Hoje em dia, as fotografias das estrelas continuam a aparecer em primeiro plano em jornais e revistas. Sua vida privada é pública, sua vida pública é publicitária, sua vida na tela é surreal, sua vida real é mítica”.

Nada mais adequado para definir a trajetória existencial e artística de Judy Garland com seus breves quarenta e sete anos de uma carreira de ascensões absolutas, no entremeio de uma vida privada marcada por quedas e desafetos, consumida pela dependência de anfetaminas e barbitúricos e regada com muito álcool.

O que vem inspirando uma saga mítica, incluída a de ser musa do movimento gay na simbologia das cores do arco-íris, desde sua morte na solidão de uma madrugada londrina. Através de biografias, filmes, musicais e séries televisivas, com um referencial extensivo às glórias e decadências - o árido preço da fama na vida de muitos artistas.

E foi pensando em um diferencial retrato e numa quase similaridade na busca de caminhos artísticos que o dramaturgo e diretor Flávio Marinho promoveu uma espécie de encontro metalinguístico e atemporal entre  estas duas  atrizes cantoras - a americana  Judy Garland e a carioca Luciana Braga.

Judy - O Arco Íris é Aqui. Flávio Marinho, autor e diretor. Junho 2022. Fotos/Beti Niemeyer.

A partir da constatação de uma certa semelhança física entre as duas e que, segundo Luciana Braga, tornou-se um insistente mote comparativo entre ela e Judy, desde a infância quando ela gostava de interpretar, à sua maneira peculiar de mimética imitação, alguns de seus temas clássicos como Over the Rainbow.

O que levou Flávio Marinho a um desafio no estabelecer pontos de ligação entre as duas, em transcendente propósito de criar liames conceituais entre artistas de épocas diferentes, além fronteiras, numa abordagem afetiva do seu oficio e da sua missão universal .

Com um dimensionamento  equilibrado das descobertas especulares de duas trajetórias, sem que nenhuma delas tenha prevalência absoluta sobre a outra. Mas, sim, criando um metafórico e lúdico jogo psicológico dos relatos biográficos, ora de uma ora de outra, tornando a proposta fascinante tanto para os espectadores comuns como para os inveterados seguidores de Judy.

Com momentos de extrema sensitividade e feliz revelação quando Luciana interpreta a célebre canção (You Made Me Love You) expositiva da paixão adolescente de Judy Garland diante de uma foto de Clark Gable que, aqui, é substituído por Marcos Paulo, um galã com quem ela sempre sonhava em contracenar nos seus primeiros tempos de gravação de novelas.

Ao contrário do mais recente filme, protagonizado por Renée Zellweger e focado na fase terminal, aqui a abordagem é de uma vida inteira, desde quando Judy, a menina adolescente, já estivesse a postos nos estúdios para gravar por uma jornada alucinante de pelo menos 12 horas diárias.

Onde Luciana Braga exibe sua potencialidade como exímia intérprete de alguns dos hits musicais de Judy, sob os artesanais arranjos da pianista Liliane Secco, dividindo o acompanhamento camerístico com o músico André Amaral. Com um minimalista arcabouço cênico de Ronald Teixeira, responsável também pela elegante indumentária da atriz, ressaltados em discricionárias luzes ambientalistas (Paulo Cesar Medeiros).

Tudo, enfim, fazendo desta peça uma reveladora surpresa em tempos tão adversos para a criação cultural brasileira. Encenação sintonizada pela reconhecida autoridade cênica de Flávio Marinho, sob a força arrasadora de um texto de envolvência sensorial.

E que encontra idêntico grau de coesão e luminosidade através de uma atriz (Luciana Braga) concedendo ao personagem a dimensão de magia que ele tem, ao mesmo tempo como vivencia o papel dela mesmo e alcança, assim, a mais completa cumplicidade da plateia.

 

                                       Wagner Corrêa de Araújo

 


Judy, o Arco-Íris é Aqui está em cartaz, no Teatro Vannucci, Shopping da Gávea,  nas sextas e sábados, às 21h. e nos domingos, às 20h. De 10 de junho a 07 de agosto

 

3 comentários:

Beti Niemeyer disse...

Parabéns, pelo seu trabalho.

Anônimo disse...

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

Louise Cardoso disse...

Excelente crítica, parabéns à todos

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