DOS PALCOS E TELAS PARA AS PÁGINAS DA HISTÓRIA

EVA WILMA e Walmor Chagas. No filme, de Luís Sérgio Person,  São Paulo Sociedade Anônima. 1965. Foto/Divulgação

 

Minhas primeiras lembranças de Eva Wilma remetem aos  anos que antecederam 1964 assistindo, no entremeio das indagações adolescentes, ao programa televisivo Alô Doçura, de embates românticos e questionamentos amorosos, sempre ao lado de John Herbert.

Pouco mais tarde fui vê-la no cinema, em 1965, no precioso filme de Luís Sergio Person - São Paulo Sociedade Anônima, por uma afetiva indicação de minha tia atriz Lysia de Araújo, e que também atuava ali, como colegas dos palcos paulistanos, ao lado de um super elenco comandado pela  grande Eva junto a Walmor Chagas.

Algum tempo depois, precisamente em 1968, na célebre e patriótica manifestação com a passeata de protesto e de resistência de bravas mulheres artistas contra a Censura e a Ditadura, lá estava, entre elas, novamente Eva Wilma. Por estes acasos do destino, ela seria a derradeira sobrevivente desta heroica trupe feminina.

Eva Wilma, junto a Tônia Carrero, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker.


Entre papéis em novelas, outros filmes e muitas outras atuações no palco, nunca pensei que o privilégio de escrever sobre ela teria a sua ultima partida, há exatos cinco anos, na peça "O que Terá Acontecido a Baby Jane' onde ela contracenava, com sua habitual empatia ao lado de outra diva Nathalia Timberg.

Como se não bastassem os amargos paradoxos  de suportar os desatinos de uma desgovernança, com sua trágica pulsão obscurantista que ronda e trava a criação cultural brasileira, ao lado  das incertezas e riscos de um fatalista surto pandêmico, temos ainda que sustentar a dor e carregar o vazio de tantas perdas teatrais.

Como as de figuras emblemáticas como Nicette Bruno e mentores da alegria pelo riso como Paulo Gustavo, e mais um nome integrando, agora, esta triste onda de inestimáveis lamentações com a chegada da hora e vez  do encantamento de Eva Wilma.

Diante deste difícil e tamanho desafio o que nos resta senão refletir através da recorrência ao patético e tão oportuno brado shakespeariano, na cena 3, ato 4, de Macbeth:

"Onde só o ignorante ainda ri, /Onde os uivos de dor que cortam o ar/ Vibram sem serem notados; onde a dor/ Mesmo violenta parece rotina/ E ninguém sabe por quem dobra o sino"....

                                           Wagner Corrêa de Araújo




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