FOTOS/ CÍCERO RODRIGUES |
Dando prosseguimento à sua
temporada de concertos 2019 a Orquestra
Sinfônica Brasileira faz um tributo especial aos 30 anos da queda do
Muro de Berlim, através de um repertório referencial das colaborações musicais
à práxis épico-dialética do teatro de Bertolt Brecht.
O próprio poeta e dramaturgo afirmara em um de seus ensaios
críticos : “a música tornava possível algo
que há muito deixávamos de dar por garantido, a saber, o teatro poético”. Reconhecendo,
sobretudo, como eram incisivas ao seu
processo de criação teatral as intervenções musicais no fluxo da narrativa
dramática.
Na viabilização do efeito de distanciamento e de provocação da apatia do espectador por um teatro de acionamento libertário e político sintonizado com a realidade e com a história da humanidade.
Na viabilização do efeito de distanciamento e de provocação da apatia do espectador por um teatro de acionamento libertário e político sintonizado com a realidade e com a história da humanidade.
Onde a relação música/teatro foi fundamental à consecução da
proposta estética do dramaturgo mor alemão e teve como seus mais íntimos colaboradores
os compositores Kurt Weill, Hanns Eisler e, finalmente, Paul Dessau.
Este último com maior presença na derradeira fase da vida do teatrólogo, nas suas realizações frente ao Berliner Ensemble, no lado da então Alemanha Oriental, pós retorno de um longo exilio que se estendera de 1933 a 1947.
Este último com maior presença na derradeira fase da vida do teatrólogo, nas suas realizações frente ao Berliner Ensemble, no lado da então Alemanha Oriental, pós retorno de um longo exilio que se estendera de 1933 a 1947.
Tendo estas composições se inserido sob formatos e gêneros diversos
nas suas encenações autorais, seja através de canções ora de caráter operístico ora de cabaré,
ou simplesmente sintetizadas como teatro musical. Estendendo-se, ainda, em
transcrições sinfônicas com expressiva parte delas integrando o repertório de
orquestras ou servindo de trilhas cinematográficas.
Em antológica seleção que reúne desde a clássica Suíte Orquestral da Ópera dos Três Vinténs, de Kurt Weill à envolvência de
momentos marcantes do legado musical para teatro de Hanns Eisler e Paul Dessau, via canções e poemas
musicados, com letras e versos de
Brecht, sob cuidadosos arranjos de Paulo Aragão.
Aqui interpretados por dois proeminentes nomes da atual cena lírica brasileira – a mezzo-soprano Carolina Faria e o barítono Lício Bruno, com a Orquestra Sinfônica Brasileira sob a batuta do maestro Tobias Volkmann.
Aqui interpretados por dois proeminentes nomes da atual cena lírica brasileira – a mezzo-soprano Carolina Faria e o barítono Lício Bruno, com a Orquestra Sinfônica Brasileira sob a batuta do maestro Tobias Volkmann.
Destacando-se os dois cantores por uma particularizada representação vocal unindo, em árias e duetos,
a tessitura lírica às nuances populares e quase recitativas das baladas de
cabaré. Alcançando sua mais apurada performance em três celebrizadas canções da
Ópera dos Três Vinténs ao final da
apresentação.
Precedidas por seleções cantantes de Paul Dessau e Hanns Eisler,
estas menos populares e quase totalmente inéditas ou raras em nossas salas de
concerto. Algumas fazendo parte do roteiro original de peças brechtianas, não rigorosamente fidelizadas
nas versões para os palcos mas que o público brasileiro já viu, por exemplo, em O Senhor Puntila e Seu Criado Matti, Mãe
Coragem, A Boa Alma de Setsuan.
Emblematicamente representativas, nestes Encontros musicais de Bertolt Brecht, através de acordes lúdicos ou densos, de um contraponto critico, ideológico e artístico, ao
Muro de Berlim, na passagem do terceiro decênio
após a sua queda. E conferindo, assim, uma mais valia à proposta concepcional deste programa idealizado por Tobias
Volkmann junto à Orquestra Sinfônica
Brasileira.
No apuro artesanal da conduta musical e de qualificado conjunto sinfônico, no entremeio de acordes lúdicos ou densos, presencial nas partituras do tríptico
Weill-Eisler-Dessau sob a égide de Brecht, trazendo um referencial reflexivo
capaz de ecoar, aqui e agora, as turbulências que fissuraram a unidade da nacionalidade alemã.
E conectando-se, assumidamente segundo Volkmann, por um ideário dramático e
musical expressivo da triste paisagem divisória de uma Berlim humilhada, capaz de lembrar o desafio de um momento de incerteza
política e retrocesso cultural por nós vivenciado. Sempre no iminente risco de se tornar um Brasil partido, da resistência
ou da exclusão...
Wagner Corrêa de Araújo
O concerto da OSB "EM MEMÓRIA DOS 30 ANOS DA QUEDA DO MURO DE
BERLIM" aconteceu no Teatro Riachuelo/Cinelandia/RJ, na terça feira 19/11, às 20h.
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