FOTOS/DESIRÉE DO VALLE |
A trajetória inicial, a partir da infância, seria
determinante para marcar o espírito revolto e conturbado de Fernando Arrabal: sua mãe , franquista doente,
despreza os ideais políticos liberais de seu pai.
E é este confronto, entre o conservadorismo e o
contestatório, o elemento propulsor do
futuro escritor e dramaturgo para assumir, de vez , já em seus primeiros
escritos, reações inconscientes e
instintivas .
Capazes de conduzir
seus textos ficcionais e dramatúrgicos a uma nuance de sarcasmo e violência à
beira do insano, em sua teatralização do caos e a que ele chamou de “cerimônia
pânica”.
De presencial laminar
em incursões textuais como Fando e Lis, Oração, Guernica, Cemitério dos Automóveis e Jardim das Delícias, de onde , em seleta
antológica, o diretor Delson Antunes elaborou a proposta cênica de “Cemitério das Delícias – Arrabal em Cena” frente à sua recém criada Cia Disparato.
Onde a surpresa do contato
incomodo do público com uma desconstrução cenográfica (José Dias), amontoada em
forma de lixo, se torna um luxo eficaz para contextualizar sensorialmente a selvageria
de um teatro do grotesco e do pânico.
Extensivo conceitualmente nos farsescos farrapos indumentários
(Joana Bueno) e nos experimentos sonoros lírico/rascantes(Pedro
Veríssimo/Fernando Aranha), tudo clarificado, em seus contornos , por luzes climaticamente vazadas(Fernanda
Mantovani).
Mas, para uma performance de prevalência do delírio verbal e
do pesadelo gestual (Sueli Guerra) não
é fácil manter uma espontânea e tranquila organicidade para 12 atores de alternativos graus interpretativos, entre a formação teatral e a maturidade profissional.
Havendo, naturalmente, maior favorecimento de acordo com o dimensionamento
da representação individualizada(Eduardo Khenaifes/Andreia Burle)ou da repartição por vários personagens (Rodrigo Candelot, Andrea Couto, Leonardo Paixão).
E, mesmo sob os perceptíveis riscos à unicidade narrativa e à progressão dramática com o florilégio incidental de um Arrabal de peças diversas, a gramática cênica
deste Cemitério das Delícias mostra,
enfim, estética artesanal e predestinada
convicção para revelar mais uma nova e afirmativa companhia carioca.
Wagner Corrêa de Araújo
CEMITÉRIO DAS DELÍCIAS - ARRABAL EM CENA está em cartaz no Teatro Café Pequeno/Leblon, de sexta a domingo, 20h. 60 minutos. Até 29 de janeiro.
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