HAIR : MUSICAL EMBLEMÁTICO DOS ANOS 60 ECOANDO NA CONTEMPORANEIDADE SEU RECADO DE REBELDIA E ESPERANÇA

 

Hair. Charles Möeller e Cláudio Botelho / Direção Concepcional. Julho/2025. Caio Gallucci /Fotos.
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Ao estrear, em 1967, no New York Festival Shakespeare numa direção concepcional de Joseph Papp, este musical já no ano seguinte, sob a titulação definitiva como Hair, se tornaria um dos maiores fenômenos midiáticos não só por sua trilha sonora (Galt MacDermont) como por sua mensagem de rebeldia contra o establishment político americano em seu libreto (Gerome Ragni e James Rado). 

Este protesto especialmente provocado pela obrigatória convocação militar dos jovens para a Guerra do Vietnam, ao lado da então ascendente mobilização pacifista nominada Flower Power. Sob o envolvimento, imersivo e anárquico, do amor livre e do psicodelismo das drogas e do rock, através de uma filosofia comportamental denominada hippieE por uma rompante tendência usando temas roqueiros pela primeira vez no universo do teatro musical da Broadway, o que acabou levando aos seus palcos a chamada opera rock.

Ampliando seu alcance por intermédio da simbólica versão cinematográfica, em 1979, por Milos Forman, sem falar nas diferenciais montagens e releituras mundo afora até os nossos dias. Sendo que nos palcos brasileiros a primeira delas, foi no inicio dos anos 70, pelo diretor Adhemar Guerra desafiando os padrões da censura e da ditadura militar.

E, agora, voltando oportunamente ao cartaz, depois de sucessivos retrocessos comportamentais na (des)governança anterior e pelos riscos políticos atuais além fronteiras, numa dúplice retomada da peça quinze anos depois, pelo ideário sempre inovador da mais celebrada parceria carioca do teatro musical  - Charles Möeller e Cláudio Botelho.


Hair. G. Ragni/J. Rado/Dramaturgia. Galt Macdermot/ Música. Nicolás Boni/Cenografia. Caio Gallucci/Fotos.


Trazendo, desta vez, a surpreendente concepção cenográfica do argentino Nicolás Boni, um expert em espetáculos operísticos, sugestionando nos detalhes de seu décor arquitetônico um daqueles requintados teatros em processo de abandono, incluindo frisas de onde ecoam os lisérgicos acordes da trilha sonora, num conluio de vozes e instrumentos, sob os arranjos e direção musical de Marcelo Castro.  

Tudo direcionado a uma ambiência onírica sob potencializados efeitos luminares (Vinícius Zampieri), na retomada cênica da mensagem de protesto do musical com novas contextualizações. Via subliminares referências ao mundo de hoje inseridas nas letras de suas canções por Cláudio Botelho, extensivas às projeções cinético-documentais (Nicolás Boni, Plínio Hit, Alba Trapero) conectadas à contemporaneidade.

Paralelo ao psicodelismo nas cores vibrantes de indumentárias (Charles Möeller) com apelos tribalistas além da inspiração nominal na tipicidade dos cabelos masculinos, longos ou desgrenhados, se estendendo até os ombros, sequenciando um característico visagismo (Fernando Torquato) tornado signo de toda uma geração, com ressonância na fluidez energizada da corporeidade dançante (Alonso Barros).

Contando prioritariamente em seu afinado elenco com cerca de 30 integrantes, onde destacam-se pela peculiar personificação de tipos fundamentais entre protagonistas e coadjuvantes. Inserindo-se na narrativa em tom de denúncia e reflexão, no compasso da irreverência e do inconformismo, através de temas que se tornaram clássicos do rock - Aquarius, Let the Sunshine In, Good Morning Starshine, além da canção titular Hair.  

Pontuando-se em vigorosas performances solo desde o inconformado Claude (Eduardo Borelli) diante de sua repulsiva convocação para a guerra, incentivado pelos posicionamentos políticos radicalizados de Sheila (Estrela Blanco), ambos brilhantes em sua tessitura vocal.  Com certa limitação na  vocalização cantada, Rodrigo Simas enfatiza melhor sua atuação presencial no sotaque libertário do seu personagem Berger. Sem esquecer as tiradas irônicas de Thati Lopes, no papel da grávida Jeannie e da impetuosa figuração de Drayson Menezes para Hud.

Transmutando, ainda, na quebra da quarta parede em efusiva conexão palco/plateia, sob inédito experimento de avanços temáticos e musicais, para continuar fazendo de Hair, um convicto experimento estético de vida e de liberdade. Do seu emblemático legado de contracultura à conscientização pela denúncia política, em destemida oposição a  todas as formas de intolerância de ontem, de hoje e de sempre...

 

                                               Wagner Corrêa de Araújo

 

Hair está em cartaz no Teatro Riachuelo/Cinelândia/RJ, quinta e sexta, 20h; sábado, 16h e 20h; domingo, 15h  e 19h, até 21 de setembro.

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