Depois de “Rabbit”, numa versão paulista de Eric Lanate, é a vez de “Tribos”, a mais polêmica e representada peça da dramaturga inglesa Nina Raine.
Na primeira , a disfuncionalidade familiar era vista através
da indiferença da filha numa festa techno diante do pai agonizando num
hospital. Enquanto em “Tribos” os laços de sangue só valem mesmo para
personalizar uma clã caotizada , na incomunicabilidade conflituante de seus
integrantes.
Christopher, um pai dono da verdade em seu academicismo
opressor (Antônio Fagundes). Beth, uma mãe ausente (Eliete Cigaarini) e Daniel,
o filho neurotizado(Guilherme Magon), ambos frustrados na pretensão literária.
E , ainda, a filha Ruth(Maíra Dvorek), cantora lírica de palcos alternativos.
Completando o desajustado naipe, o filho surdo Billy( Bruno
Fagundes) ,confinado à linguagem labial, e a namorada dele Sylvia( Arieta
Corrêa) que beirando a surdez, o conduz à prática da linguagem de sinais. E, ao
mesmo tempo, faz romper o silêncio de uma mente solitária.
A construção cênica hiper-realista(Lu Bueno), em constantes
encontros à mesa das ceias, contradiz o tom quase abstrato de discussões
inconsequentes, aumentando o clima familiar claustrofóbico.
Com figurinos corretos ( Alexandre Hercovitch) e luzes
vazadas com restritivas gradações (Domingos Quintiliano), desfocadas nos
efeitos videográficos com frases definidoras de módulos. Quase dispensáveis no
processo sequencial narrativo, com seu obscuro didatismo.
O empenho da direção de Ulisses Cruz pela coesão do elenco ,
não consegue desviar o olhar armado da plateia no filho surdo(Bruno Fagundes),
sem dúvida a melhor performance pela própria complexidade e caráter emotivo do
personagem .
No seu humor ácido, a presente trama dramatúrgica abre um
olhar além do núcleo doméstico ,sobre todas as formas de rejeição e
marginalidade no isolacionismo tribal de raças, credos políticos, preferências
sexuais, em sua total exclusão de como ,idealmente poderia atuar a fraternidade
social .
E , nas suas aliterações filosóficas em torno de um universo
do silencio vocal e da transmutação conceitual da palavra pelo olhar, somos
ironicamente levados, com Bergson, a estabelecer pontes com a tragicomédia do
riso surdo que habita cada gesto humano.
WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO
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