ROTA DE FUGA / CIA URBANA DE DANÇA : VOLTA PRESENCIAL SOB EMPENHO AFETIVO E ENERGIZADA FISICALIDADE

Rota de Fuga, com a Cia Urbana de Dança. Direção Sonia Destri Lie. Abril 2022. Foto/Jenner Souza.


No pós diluvio pandêmico e na contramão às politicas culturais oficiais sob signos de terra arrasada, este último final de semana trouxe, mesmo assim e sequencialmente, a volta em caráter presencial de três significativas cias. A Cia Urbana de Dança, a Renato Vieira Cia de Dança, além da parceria de Alex Neoral com a Cia de Ballet Dalal Achcar.

A primeira delas – a Cia Urbana de Dança - tendo como mentora Sonia Destri Lie, valendo-se da criatividade coletiva de seus bailarinos, com supervisão direcional/coreográfica desta, e titulando emblematicamente a sua primeira apresentação em palcos de Rota de Fuga. Num assumido referencial aos tempos adversos enfrentados por seus integrantes em dois anos de afastamento preventivo por causa sanitária.

Tornando viável em corajoso empenho, por intermédio aqui de sutil sotaque coreodramatúrgico, sustentado na estética habitual de energizado gestual urbano, marca registrada da Cia. No compasso de um contextualizado dilema psicofísico do desistir de vez ou do jamais arrefecer. E na prevalência do ansiado sonho da volta, pelos bailarinos Miguel Fernandez, Tiago Souza, Jéssica Nascimento, Johnny Brito e Elton Sacramento.


Rota de Fuga / Cia Urbana de Dança. Direção Sonia Destri Lie. Abril 2022. Foto/Jenner Souza.


No início da certeza da proximidade de um epílogo para a até então única saída, pela atuação nas plataformas digitais, mas já se vendo diante do enfrentamento de uma crescente crise inflacionária, que torna escassos os recursos de patrocínio, gerando a necessária busca de quaisquer “rotas” possíveis para viabilizar a busca da criação artística.

Mesmo assim conseguiram estrear, ainda que numa performance de apenas duas noites, uma no Teatro Armando Gonzaga e a outra no Teatro João Caetano, acreditando no valioso fruto do esforço e da crença de que estes cinco competentes bailarinos, originários de comunidades, unidos venceriam.

Em palco vazado  com varas de  luzes rebaixadas entre sombras (Renato Machado), uma indumentária básica de malhas por Zsolt e incisiva trilha autoral de Rodrigo Marçal. Considerando-se as circunstanciais limitações, de um espetáculo quase em  processo de construção, mas certamente superáveis no calor do reencontro cotidiano, palco/plateia, de uma possível temporada mais à frente.

Ressaltando, enfim, o que venho afirmando em anteriores análises criticas, o bravo percurso, entre trincheiras e em campo minado, e o rompante grito gestual dos bailarinos  das comunidades, no sempre vigoroso trabalho de Sônia Destri Lie e sua Cia Urbana de Dança.

                                               Wagner Corrêa de Araújo


Rota de Fuga, com a Cia Urbana de Dança. 07/Abril 2022. Teatro João Caetano. Foto/Jenner Souza.


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