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| Chorus Line. Michael Bennet/Criação Autoral. Miguel Falabella/Versão Concepcional. Bárbara Guerra/Direção Artística e Coreográfica. Dezembro/2025. Caio Gallucci/Fotos. |
Há exatos 50 anos o ideário do bailarino e coreógrafo americano
Michael Bennet que, desde o início de seus estudos numa academia de dança, já
tinha decidido optar pela trajetória no mundo dos musicais, alcançava seu
grande momento artístico com A Chorus Line.
Especializando-se também como ator, roteirista, produtor e
diretor, na década de 70, já era então bastante conhecido no universo da
Broadway, quando empenhou-se na
concretização de projeto inovador, apesar dos seus riscos, pelo qual desconstruiria
toda a tradição estética conceitual no entorno dos padrões de um musical clássico.
E é esta emblemática criação que, agora, outra vez, está de
volta aos nossos palcos numa releitura textual (Miguel Falabella) conectada à contemporaneidade,
extensiva à versão das letras, sob envolvente
direção concepcional e coreográfica de Bárbara Guerra, numa das mais surpreendentes iniciativas brasileiras do gênero nos últimos tempos.
Para a realização deste inusitado antimusical,
Michael Bennet foi observando o comportamento dos “gypsies”, bailarinos que pulavam de galho em galho, como meros
coadjuvantes-coristas nas produções, sem nunca se estabilizarem em sua incessante
luta, cercada por quedas súbitas, no frenesi da busca de um lugar ao sol.
A partir de uma série de depoimentos destes aspirantes,
elaborou uma narrativa psico-confessional, em parceria dramatúrgica com James
Kirkwood, e que abordava, desde os habituais fracassos artísticos às frustrações pessoais, indo dos conflitos de identidade aos abusos sexuais, no enfrentamento
hostil do ambiente familiar e do preconceito social.
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| Chorus Line. Michael Bennet/Criação Autoral. Miguel Falabella/Versão Concepcional. Bárbara Guerra/Direção Artística e Coreográfica. Dezembro/2025. Caio Gallucci/Fotos. |
Onde, no despojamento de uma sala de ensaios, procuravam mostrar
suas habilidades na tentativa de serem selecionados para uma nova produção de
teatro musical, perante um diretor (Zach) que os escolhia ou eliminava, friamente, em caráter definitivo. Papel, agora, simbolicamente, assumido por Raul Gazzola que fizera
parte do elenco na pioneira montagem paulista de 1983.
A trilha sonora original
(Marvin Hamlisch) é, aqui, artesanalmente tratada pelo comando musical de Jorge
de Godoy, em temas melódicos que se tornaram grandes hits, paralela à
vocalização num quase formato de monólogos teatrais e recitativos cantados sobre os dramas pessoais de cada concorrente.
Enquanto tomadas fílmicas, por uma câmera móvel (Mess Santos) circulando entre os
atores, estabelecem proximidade intimista com os espectadores através das reações faciais emotivas dos intérpretes, reproduzidas num telão frontal, não ficando nenhum deles
insensível diante do que viam. Um procedimento que se tornou habitual nas
retomadas mais atuais da encenação de Chorus Line.
Um elenco super afinado reunindo experientes intérpretes,
habitués de bem sucedidas incursões no teatro musical, muitos deles premiados
pela performance em personagens adorados por um público de todas as idades,
ficando difícil destacar isoladamente alguns sem citar os outros.
Tudo concorrendo para uma energizada corporeidade gestual (Bárbara
Guerra), dividida entre passos e movimentos que remetem em processo paralelo,
tanto às sensitivas posturas do ballet (At
the Ballet/I Can do That), num referencial à formação daqueles atores/bailarinos,
como ao contagiante sensualismo dos acordes pop-jazzísticos, tão presencial
na trilha do musical (One - I Hope I Get It).
Em seu prevalente dimensionamento cênico (Natalia Lana) assumidamente despretensioso, incluídos os figurinos com sotaque cotidiano
(Theo Cochrane), sem excepcionais efeitos luminares (Tulio
Pezzoni) nas cenas preliminares, o que concorre para ampliar a expectativa da surpresa
final.
Sequenciadas até o inesperado psicodelismo do apoteótico
epílogo, revivendo em todos os seus aspectos cenográficos e indumentários, além
de cartolas usadas por todos, entre luzes extasiantes, o absoluto glamour como o maioro legado dos grandes musicais da Broadway...
Wagner Corrêa de
Araújo
Chorus Line está em cartaz no Teatro Villa-Lobos/Jardim Pinheiros/SP, quintas e sextas às 20h; sábados às 16h e 20h; domingos, às 15h30 e 19h; até o proximo dia 14 de dezembro.



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