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| Macbeth /Ópera de G. Verdi/TMSP Elisa Ohtake/Concepção Cenográfica-Direcional. Novembro/2025. Rafael Salvador / Fotos |
Macbeth foi a primeira das três óperas de
Giuseppe Verdi inspiradas em William Shakespeare, com sua original versão, em
1847, sob um libreto de Francesco Maria Piave. Na primeira fase de sua trajetória
de compositor, seguida na finalização de sua obra operística, por duas obras
primas com o mesmo ideário - Otello (1887)
e Falstaff (1893).
Enquanto em Otello
e em Falstaff, sua escrita musical
tem o alcance de suas mais perfeccionistas óperas, Macbeth mesmo não sendo tão absoluta na demonstração de sua estética
composicional, traz passagens solistas e corais que fizeram com que fosse elogiada
pela crítica e aplaudida pelo público.
Mas a sua adaptação narrativa-musical nunca teve o impacto dramático
de Otello nem a força cômica de Falstaff, única ópera verdiana neste gênero. E, talvez
por isto, tem sido apresentada, ora por uma fidelidade mais próxima da tragédia
shakespeariana, ora por releituras conectadas aos avanços do universo
operístico contemporâneo.
No primeiro caso, tivemos uma exemplar versão personalista de um nome histórico do teatro brasileiro e grande aficionado da ópera – Sergio Britto, em 2005, para o Municipal carioca. E pelo outro lado, uma polêmica direção cênica por Bob Wilson, em 2012, no Municipal paulista, dividiu as opiniões diante do seu provocador desafio aos pilares da tradição.
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| Macbeth /Ópera de G. Verdi/TMSP Elisa Ohtake/Concepção Cenográfica-Direcional. Novembro/2025. Rafael Salvador / Fotos |
E, agora, na temporada 2025 do TMSP, é a vez de Elisa Ohtake
um conceituado nome da nova geração brasileira de artistas plásticos e, não por acaso, neta da memorável Tomie
Ohtake. Que, anos atrás, surpreendeu com sua concepção cênica usando pinturas
autorais em Madama Butterfly, 1988, no Municipal carioca, seguida de outra
versão, 2008, para o similar palco paulista.
Elisa Ohtake ficando responsável não só pela cenografia como
pela direção cênica concepcional, lembrando que esta foi a sua incursão inicial no
ofício operístico, dando, aqui, vazão a sua experiência prática em espetáculos
especificamente teatrais.
Numa proposta minimalista de evocação futurista onde a caixa cênica
é preenchida por elementos de plástico inflável de cores neutras - dois puffs,
um escorpião e uma serpente - estes dois últimos como simbólica figuração da
maldade e da perfídia traiçoeira dos personagens Macbeth e Lady Macbeth.
Diante da mobilidade de um painel frontal, também do mesmo
material que, por sua vez, sugestiona opressão claustrofóbica do elenco em
cena, circundado pela crueldade da trama, com mortes seguidas e inapagáveis vestígios
de sangue. Sempre sob prevalente sotaque sombrio no uso de efeitos luminares (Aline
Santini) e tonalidades discricionárias no figurino atemporal com sutis insinuações de
época (Gustavo Silvestre e Sonia Gomes).
A regência do maestro Roberto Minczuk, frente à Orquestra Sinfônica Municipal, sendo direcionada com acurado empenho, na distinção dos acordes lentos e de agitatos dramáticos. E o Coro Lírico Municipal, conduzido por Hernan Sanchez Arteaga, sabendo brilhar na marcante cena Patria oppressa e no apoteótico final Macbeth, Macbeth ov'e?.
Nos papéis protagonistas saindo-se bem no domínio de sua tessitura
de barítono - Douglas Hahn (Macbeth),
embora não tenha a mesma química cênico-vocal da soprano Olga Maslova (Lady Macbeth), hipnotizante em sua ária Vieni t’affreta. Com seguras atuações solistas, ainda, do baixo Andrey
Mira (Banquo) e do tenor Enrique Bravo (Macduff).
A direção cênica-concepcional de Elisa Ohtake vai num
dimensionamento inventivo no entorno da ópera, revelando uma encenação mais
direta e seca nas situações dramáticas e seus desfechos violentos, mas sempre com
excelente rendimento.
Mas ao não saber como bem usar exibições fílmicas, durante a
troca de cenários nos entreatos, não consegue segurar sua convicta gramática cênica.
Ao mostrar Lady Macbeth surpresa diante
de uma garrafa que parece ser de energizante sexual ou Macbeth na parte externa do Teatro com um destes sacos gigantes de
pipoca. Provocando risos e vaias compulsivas pelo mau uso de recursos histriônicos e quebrando,
afinal, toda amarração de um, até então, sério jogo operístico...
Wagner Corrêa de Araújo
Macbeth, ópera de Verdi, está em cartaz no TMSP, com elencos alternativos nos papéis protagonistas, até o próximo domingo, 09 de novembro.


