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La Bayadère / Mariinsky Ballet. Com Victor Caixeta. 2022. Svetlana Avvakum / Photos. |
Entre os bailarinos brasileiros da última geração que
alcançaram uma super especial posição de destaque nos palcos internacionais
está, sem dúvida alguma, Victor Caixeta. Que na mineiridade de sua origem interiorana,
após a iniciação no balé clássico, começou a chamar a atenção, desde logo, por
seu irrestrito talento vocacional e sua potencial evolução técnica.
“Minha trajetória no
balé começou entre os 11 e 12 anos de idade, em Uberlândia (MG), por meio de um
projeto social chamado Pé de Moleque, sob a direção de Guiomar Boaventura. Foi
ali que tive meu primeiro contato com essa arte que, desde então, se tornou
parte essencial da minha vida. Guiomar teve um papel fundamental nesse início.
A ela devo grande parte do que construí até hoje. Seu ensinamento, rigor e
dedicação seguem sendo referências para mim, e é com profundo respeito que
continuo a reconhecê-la como uma das minhas principais mestras”.
O que fez transmutar os planos familiares para que ele se
tornasse um jovem esportista, por sua identificação maior com o gestualismo
exigente da estética da dança. Num empenho tão intenso que, aos quinze anos,
impressionou de tal maneira a banca seletiva do Prix de Lausanne possibilitando-lhe estágios em prestigiadas
academias do exterior, desde a Escola Nacional de Balé do Canadá à Staatliche Ballettschule de Berlim.
"O trabalho feito com a Guiomar em pequenos passos, foi sério desde o primeiro dia. Dizer que nos surpreendemos com as conquistas não seria certo, ela sempre me ensinou a mirar alto e sonhar sem pedir licença. Nosso plano sempre foi sólido, só não esperávamos que o tempo fosse tão generoso. Mas no fim das contas, quem tem tempo a perder?"
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Het Nationale Ballet . Regnum/By Milena Sidorova. À esquerda, Victor Caixeta. 2023. Michel Schnater / Photo . |
Com dezoito anos, foi contratado para o Mariinsky Ballet (São Petersburgo), onde teve a chance de atuar ora
como solista, ora como protagonista, em algumas das maiores obras do repertório
clássico. De lá, por razões de convicção política e solidariedade artística à
Ucrânia invadida, num similar ideário também de David Motta Soares no Bolshoi
Ballet, ambos deixando sequencialmente a Rússia, enquanto David ia para Berlim e Victor para
Amsterdam.
"A decisão de deixar a Rússia foi tomada com uma dor profunda, mas, por questões morais, foi algo que não pude evitar. Talvez eu nunca me torne o bailarino clássico que sonhei em ser, talvez, se tivesse permanecido, teria perdido a chance de me tornar o artista eclético que desejo me tornar. Esse é um paradoxo angustiante, algo que terei que carregar dentro de mim, dia após dia, pelo resto da minha vida…Mas tudo que sei hoje, eu devo aos quase 5 anos vividos na Rússia".
E a entrada definitiva no Het
Nationale Ballet deu a Victor Caixeta a oportunidade de se especializar na
dança contemporânea, através da assumida inventividade de alguns de seus
conceituados coreógrafos, ainda que, vez por outra, já tivesse dançado nos seus
cincos anos russos, obras de Hans van
Manen e Wayne McGregor a Twyla Tharp.
"O Het Nationale Ballet
foi um abrigo que me acolheu dando
espaço para ser criativo e explorar o mundo. Sou muito grato à direção daquele
teatro por ter tido a experiência de trabalhar com coreógrafos extraordinários".
Tendo ainda no período de formação berlinense, interpretado criações
de Nacho Duato e Marco Goecke. No entremeio de toda esta intensa atividade e, antes
de tudo, tão proveitosa trajetória, Victor Caixeta nunca deixa de lembrar o
apoio permanente, tanto da parte de seus pais como dos grandes mestres que o
acompanharam através de uma carreira ascendente:
"À minha família, por
mesmo sem entender nada sobre o mundo da arte e principalmente do ballet, estar sempre
me apoiando da forma que eles podem. E claro, a todos os meus mentores, Guiomar
Boaventura, e meus mestres da Rússia: Gennady Selyutsky (in memoriam, 2022) e
Viktor Baranov".
Optando nos últimos anos por se direcionar a uma caminhada
artística independente, fruto de sua maturidade como bailarino, agora mais
autoral numa perspectiva visionária que certamente o encaminhará à criação e à
direção concepcional coreográfica.
"Com o passar dos anos,
tenho interpretado os personagens de maneira mais madura, incorporando tanto
minhas experiências profissionais quanto pessoais. Acredito que qualquer papel com o qual eu consiga me
conectar como ser humano acaba se tornando um favorito. Se tivesse que escolher
um papel, este seria o de Romeu".
E é carregando a titularidade de grande artista, na missão de
decifrar os mistérios no universo da dança, que ele se apresentará, pela
primeira vez, no mais tradicional palco da dança clássica do país – o Municipal
carioca. Integrando-se ao lado da bailarina brasileira de iguais méritos - Mayara
Magri, de estelar carreira no London Royal
Ballet, no protagonismo do Lago
dos Cisnes, com o Balé do TMRJ.
Lembrando que esta tem sido uma parceria constante, dançando juntos este balé em palcos europeus.
"Ser brasileiro em uma companhia de balé é um motivo de muito orgulho, geralmente nos destacamos pela nossa dedicação, bom humor e a qualidade mais importante, somos sempre musicais. Dançar ao lado da Mayara é sempre um prazer imenso. Além de admirá-la profundamente como artista, temos uma amizade sólida e verdadeira que torna cada momento ainda mais especial. Retornar ao Brasil e unir nossas experiências com a grandiosidade deste teatro é um verdadeiro sonho se tornando realidade. Estamos muito gratos com o convite".
Com o olhar conectado no seu futuro profissional/existencial de
toda uma vida dedicada à expressão da arte da dança, Victor Caixeta afirma plenamente
convicto:
"A dança tem sido, ao longo da minha trajetória, uma linguagem
profunda e transformadora, uma forma de expressão tanto pessoal quanto
universal. Assim como no teatro e no cinema, a dança nos permite experimentar diversas vidas, comunicar emoções
e contar histórias que, muitas vezes, seriam impossíveis de serem expressadas
apenas com palavras, criando uma conexão única com o público e comigo
mesmo".
E é com muita ênfase no propósito de seu ideário que ele conclui seu depoimento:
"Pretendo continuar explorando novas formas de expressão, colaborar com outros artistas, contribuir para o fortalecimento da arte no Brasil e no mundo. Meu objetivo é também inspirar e influenciar as novas gerações de bailarinos, para que possam, afinal, encontrar na dança uma forma de libertação e transformação, assim como eu encontrei..."
Wagner Corrêa de Araújo
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O Lago dos Cisnes. Het Nationale Ballet. Victor Caixeta e Maia Makhateli. 2023. Altin Kaftira/Photo. |
O Lago dos Cisnes, no protagonismo de Mayara Magri e Victor Caixeta, como convidados especiais do Balé do Theatro Municipal / RJ, acontecerá durante sua temporada, especificamente apenas nos dias 15, 17 e 21 de maio.
4 comentários:
Victor é um artista completo e merece cada uma de suas conquistas e merece voar cada vez mais alto.
Meu querido neto, você merece todo sucesso. Dedicado, responsável e extremamente competente, o Brasil orgulha do seu talento e se rende diante de um filho que eleva o nome do seu país, como o país de talentos requintados
Grande Victor Caixete. Orgulho da nossa cidade Uberlândia MG e do Brasil. Espero que um dia minha Sophia costa se torne uma bailarina renomada assim como vc. E vc é inspiração para ela com toda certeza.
, 06:02
Grande Victor Caixeta. Orgulho da nossa cidade Uberlândia MG e do Brasil. Espero que um dia minha Sophia costa se torne uma bailarina renomada assim como vc. E vc é inspiração para ela com toda certeza.
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