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A Viúva Alegre. Opereta/Franz Lehar. André Heller-Lopes/Direção Concepcional. Abril 2025. Daniel Ebendinger / Fotos. |
Inspirada numa típica comédia parisiense de 1861 - "O Adido da
Embaixada", por Henri Meilhac, a
opereta A Viúva Alegre, estreada
em 1905, tornou-se a mais popular de todas as obras do compositor germânico/austríaco
Franz Lehár. Que, a partir daí, ficou
conhecido como um dos maiores experts neste lúdico gênero musical.
Além da composição ser celebrada como um clássico do cinema
silencioso, na versão 1925 de Erich von
Stroheim, ao seu grande êxito de crítica e público na atuação da dupla Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald, na era dourada da opereta fílmica americana. Sendo
referenciada, ainda, como musical da Broadway e em variadas adaptações para os
palcos coreográficos.
Pelo dimensionamento estético desta opereta, situada numa
musicalidade cantada e dançada no entremeio de valsas e acordes romantizados, paralelamente
às suas inúmeras partes faladas tal qual uma burleta ou comédia musical ligeira,
tornou-se comum uma liberdade maior na ampliação de seu contexto falado.
O que faz com que sua duração possa alcançar, às vezes, até
quarenta minutos a mais, mesmo diante do risco de que torne menor a prevalência
da música, tornando-se isto usual nas suas representações contemporâneas. O que
vai depender, evidentemente, do ritmo imprimido pela singularidade das opções de
sua direção cênica.
Nesta atual produção da opereta na abertura da temporada 2025 do TMRJ, sob entusiasta e diferencial concepção cênica de André Heller-Lopes, utilizou-se o legado da textualidade autoral do dramaturgo carioca Arthur de Azevedo, original de 1908, mais proeminente na letra das canções, com inserções atualizadas no enredo e maior independência nas passagens faladas.
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A Viúva Alegre/Franz Lehar.Felipe Prazeres/Direção Musical. André Heller Lopes/Direção Cênica. |
O que não conseguiu impedir um certo fastio na extensão da
montagem, provocado pela perceptível dificuldade de apreensão de falas isoladas
em sua integralidade, numa caixa cênica apresentando limitações acústicas,
provocando reclamações de espectadores, mas não extensível às canções
acompanhadas de suas respectivas legendas.
Ao lado de um preciso cuidado imprimido à leveza lúdica da
partitura pelo regente titular Felipe Prazeres frente à OSTM, paralelo às intervenções
vibrantes de parte do Coro e de
bailarinos dos corpos estáveis. Numa bem
ensaiada coreografia (Rodrigo Neri) indo de valsas a danças de cabaré, havendo
especiais destaques no protagonismo de seu staff
vocal.
Com maior convicção e equilíbrio no papel titular de uma espirituosa e cativante viúva Hanna - pelo soprano Gabriela Pace - e da energizada fluência do Conde Danilo, na personificação do barítono Igor Vieira, ambos empenhando-se tanto em
suas atuações vocais quanto atorais, com potencial química nas árias (Vilja Lied), como nos duetos amorosos (Lippen
Schweigen), na luminosidade da cena do ato final ao revelar a reconciliação de uma paixão reprimida.
Transitando bem, ainda, na agitada performance de uma farsa jocosa entre o
engraçado fingimento e as traições, através dos personagens Barão Zeta, o embaixador pontevedriano (tenor Fernando Portari), Camille (tenor Ricardo Gaio)
e Valencienne (soprano Carolina Morel), além da bem humorada
atuação, em papel meramente teatral, da conhecida atriz Alice Borges.
Cabendo ressaltar a elegante luxuosidade dos figurinos (Marcelo Marques), sob um subliminar sotaque atemporal
conectando a Belle Époque à
contemporaneidade. Tudo ambientado numa vistosa caixa cênica (Renato Theobaldo),
preenchida por alusões a interiores e
jardins com sutis toques aristocráticos, extensiva aos ambientes cabaret, sendo amplificados nos efeitos
luminares de Paulo César Medeiros.
Do Chez Maxim parisiense a uma plasticidade de proposital intenção metafórica, ao lembrar o glamour dos cassinos e revistas cariocas dos anos nostálgicos de glória, e por visibilizar uma charmosa cena parodiando a cinematográfica brasilidade de uma "viúva alegre" sugestionando Carmen Miranda, com seu alegórico turbante de frutas tropicais, cercada por bananas gigantes.
Em mais esta volta da “Viúva
Alegre” ao Municipal, vale registrar, aqui, uma dúplice e incrível curiosidade histórica sobre a
obra : enquanto Hitler era um fã
absoluto da opereta, Richard Strauss
não disfarçava o ciúme diante do seu sempre ascendente sucesso popular, definindo ironicamente Franz Lehár -“seu melhor talento é para o kitsch”- para completar, em 1940 : “Ainda hoje aos 75 anos, a valsa da Viúva
Alegre sempre me dá um acesso de raiva”...
Wagner Corrêa de Araújo
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Um comentário:
Amei a resenha ♥️
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