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Floresta Amazônica / Cia de Ballet Dalal Achcar. Dalal Achcar/Concepção Coreográfica/Direcional. Março/2025.Valério Silveira / Fotos. |
Esta obra da coreógrafa e diretora Dalal Achcar foi uma
criação precursora (1975), no universo da dança clássica-romântica em moldes brasileiros,
como primeiro balé completo de extensão padronizada em dois atos, a abordar o
exotismo ancestral indigenista e a riqueza ecológica daquela que é considerada
o pulmão da terra - sendo titulado como Floresta Amazônica, por Heitor Villa-Lobos, em 1958.
Esta vigorosa suíte sinfônica tinha servido de ponto de partida para
uma produção fílmica americana (Green
Mansions) não tão bem sucedida como sua trilha sonora que acabou integrando
seu legado musical, sendo uma de suas mais inspiradas composições. E foi
precedida apenas por um poema sinfônico (Amazônia)
de mesma autoria, direcionado à dança, mas sem alcançar a mesma
repercussão.
Em sua estreia, 1975, no Municipal carioca, na acurada versão de Dalal
Achcar, esta criação teve parceria artística do Royal Ballet de Londres, através de um de seus mais renomados coreógrafos
(Sir Frederik Ashton) na idealização do Grand
Pas-De-Deux para a participação protagonista de uma dupla estelar - Margot
Fonteyn e David Wall.
Dez anos depois alcança seu dimensionamento definitivo como
um balé completo em dois atos, mantendo na íntegra a sua partitura original, então
executada, em caráter memorável pelo maestro Henrique Morelembaum, frente à Orquestra
Sinfônica e Coro do Theatro Municipal, com a soprano solista Maria Lúcia Godoy.
Que simbolismo tão especial esta sua recente volta ao Municipal, no entremeio de tantas datas tão significativas, 50 de sua estreia, 40 da marcante performance TMRJ, ao mesmo tempo, que faz lembrar o centenário de uma das maiores sopranos do País ainda entre nós - Maria Lúcia Godoy.
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Floresta Amazônica / Cia de Ballet Dalal Achcar. Dalal Achcar/Concepção Coreográfica/Direcional. Março/2025.Valério Silveira / Fotos. |
Retomando seus elementos estéticos originais, sendo mantidas,
as projeções de um dos mais celebrados figurinistas na época, o argentino José
Varona e a de um dos nomes absolutos da
cenografia Hélio Eichbauer, sob artesanal concepção coreográfica / direcional de
Dalal Achcar. Não deixando de citar, nesta atual remontagem, os ambientais
efeitos de luzes vazadas e focais por Felício Mafra.
Tudo como il faut para
uma obra que devia ser do repertório do Balé do TM/RJ pela força de sua brasilidade,
não só coreográfica, mas musical e temática, tão oportuna quando a complexidade
florestal, o manancial aquático, vegetação e animais, sem esquecer dos remanescentes
dos povos originários, continuam sob enfrentamento de invasões depredatórias.
“A minha única e
insistente influência extramusical é diretamente da natureza, especialmente a de
meu país”. Palavras
precisas do próprio Villa-Lobos e que podem ser aplicadas a esta bela
iniciativa artística na transposição coreográfica da Floresta Amazônica. Onde
tudo flui para engrandecimento desta obra, desde o acerto da escolha da bela
gravação à conexão de seus elementos indumentários / cenográficos. Além de um
enredo a partir de narrativas lendárias com assumido sotaque folclorista na
configuração da tipicidade de seus personagens.
Destacando o empenho de um vasto e bem ensaiado elenco jovem
de bailarinos da Cia de Ballet Dalal Achcar, orientado pelo maître de ballet e remontador Eric Frederic, ressaltando convictas atuações em variados
papeis solo ou em afinadas formações grupais. Numa similaridade performática com
movimentos ora de puro gestualismo clássico, presencial nas estilosas pontas
das bailarinas, ora tendendo para uma energizada corporeidade masculina nas danças
características indígenas.
Alcançando uma culminância sensorial palco/plateia quando as
duas luminosas canções (poemas de Dora Vasconcelos) dão vazão a uma
representação glamourosa de técnica e lirismo à talentosa e virtuosística dupla
ascendente de bailarinos Gabriela Sisto,
como a Deusa da Floresta, e de Fernando Mendonça no papel de Homem Branco.
Completando, assim, a exuberante reapresentação da Cia de
Ballet Dalal Achcar de uma obra, mais próxima de um esmerado classicismo romântico,
em meio a sutis tonalidades contemporâneas, abrindo com brilho qualitativo a Temporada Carioca de Dança 2025.
Wagner Corrêa de Araújo
Floresta Amazônica / Cia de Ballet Dalal Achcar está em cartaz no TM/RJ, de 20 a 22 de março, às 20hs, até domingo, 23/02, às 16h.
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