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Evolution Dance Theater/ Blu Infinito. Anthony Heinl/Diretor/Coreógrafo. Dezembro/2023. Fotos/Simone Di Luca. |
Nas temporadas anteriores da cia italiana Evolution Dance Theater, respectivamente
em 2015 e 2018, nos palcos brasileiros fizemos algumas considerações críticas
sobre o ideário estético tecnológico que sinaliza suas criações. E que podem continuar
servindo como referencial para seu mais novo espetáculo – Blu Infinito.
A começar do polêmico e complexo questionamento sobre até
onde os avanços cinéticos e virtuais, sob prevalentes recursos tecnocráticos e digitais,
podem levar ao risco de tornar quase invisível a corporeidade física presencial,
elemento básico da criação coreográfica, seja ela sob a tradição clássica ou em
moldes contemporâneos.
O que vem sendo discutido há mais de meio século desde as
experiências pioneiras na especificidade deste tipo de performance, através do Nikolais Dance Theater, continuadas em
bases diferenciais por intermédio de outras cias como o Pilobolus e Momix, ou
daquelas mais recentes, caso da Evolution
Dance Theater.
Onde nos deparamos com uma sempre instigante pergunta : até quando
os efeitos eletrônicos, imagéticos e sonoros, são capazes de manter íntegra a
relação corpo orgânico e corpo virtual sem que a dança fique num segundo plano
ou deixe de ser uma expressão artística pura?...
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Evolution Dance Theater/ Blu Infinito. Anthony Heinl/Diretor/Coreógrafo. Dezembro/2023. Fotos/Simone Di Luca. |
O que, em contraponto naquela época, remetia a certo
desinteresse do espectador e da critica preferindo, por um outro lado, aplaudir a inventividade
absoluta de criadores como
Merce Cunninghan. Sempre abrindo perspectivas vanguardistas em suas parcerias
com a música concreta de John Cage,
em reveladores experimentos da dança pela dança, privilegiando a força imanente
do livre gestual coreográfico.
De qualquer maneira há que se considerar a expansão das tendências
performáticas com um clima de instalação plástica/cinética no universo
coreográfico e das exposições. E que vem alcançando inclusive as retrospectivas
em tributo a artistas do naipe de Monet,
Van Gogh ou Frida Kahlo, numa dialetação interativa e digital do público com a
obra do artista longe de um habitual e próximo contato de admiração extasiante.
Os sete integrantes do elenco da Evolution Dance Theater se caracterizam, aqui, não apenas como bailarinos mas por sua capacidade multimídia na
conexão de habilidades circenses, ora como ginastas e acrobatas, ora via caracteres miméticos e ilusionistas
possibilitando, assim, um lúdico
mergulho em mundo de fantasias virtuais.
Numa sequencialidade de peças de episódica duração, sob sonoridades
pop/roqueiras, com instantâneas citações de ritmos latinos e ligeiras frases
musicais impressionistas, capazes de transformar o espetáculo numa extensa,
ainda assim envolvente, videoclipagem propiciada por psicodélicos efeitos
luminares
Entre sombras e cores aquareladas, para descortinar os
mistérios das profundezas oceânicas com seus seres aquáticos e sua flora marítima,
num painel cenográfico onírico sustentado por projeções e recursos digitais que
elevam às alturas ou ampliam metaforicamente a dimensão corporal dos seus
multifacetados intérpretes.
Valendo registrar uma curiosa observação de seu idealizador, coreógrafo e
diretor concepcional Anthony Heinl, diante da inesperada ocorrência de qualquer eventual acidente no percurso cênico desta parafernália hightech
:
“Tudo tem que ser preparado com muito cuidado. Cada dançarino tem sua própria caixa com a luz para as fantasias. Afinal, ele terá um grande problema se deixar cair uma luva ou máscara preta num palco totalmente escuro. Nunca mais a encontrará”...
Wagner Corrêa de Araújo
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