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Bob Esponja O Musical. Gustavo Barchilon/Direção Artística. Maio 2023. Fotos/Léo Aversa. |
Desde a dúvida pairando na iminência de um fracasso na sua estreia em 2017, ninguém conseguia acreditar que Bob Esponja, Calça Quadrada como musical do circuito Broadway,
inspirando-se no descompromisso meramente lúdico de uma série infantil de animação
da Nickelodeon, iria se tornar um
triunfo de público e um campeão de indicações ao Tony Awards.
O personagem criado por um biólogo marinho (Stephen Hillenburg)
em 1984 e transformado numa serie icônica de
televisão quinze anos depois, na verdade, por trás da sua perceptível ingenuidade narrativa, sobre a
imaginária Fenda do Biquini à beira de
uma erupção vulcânica, representava ali um
mote do risco ecológico vivido cada vez mais pelo planeta Terra.
E, especialmente, acaba dando, hoje, seu recado de tragédia
ecológica para nós que vivemos abaixo da linha equatorial, nesta proximidade da
maior de todas as reservas naturais - a Floresta Amazônica. Diante do
negativismo voltado ao fato científico e da insensatez de uma classe politica que prefere
defender os ruralistas, os mineradores e os predadores de nosso precioso legado verde.
Nesta trama Bob Esponja
(Mateus Ribeiro), o Calça Quadrada com seu característico design xadrez e o amarelo da camisa, apela aos seus amigos ligados
genèticamente à natureza Patrick Estrela
(Davi Sá) e Sandy (Analu Pimenta) contra
as artimanhas vilãs de Plankton (Tauã
Delmiro). No entremeio de outros tantos personagens, como o diferencial
misantropismo de Lula Molusco (Ruben
Gabira) com suas quatro patas em empolgante sapateado, além de outros singulares papéis
solistas dividindo-se como coristas.
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Bob Esponja O Musical. Renata Borges/Produção e Idealização. Maio/2023. Fotos/Léo Aversa. |
Todos em entrega performática de hiperativa vivacidade a esta artesanal versão artística/concepcional direcionada pelo talento múltiplo daquele jovem brasileiro - Gustavo Barchilon – que, por suas bem sucedidas criações nos palcos daqui e de além-mar, tem sido titulado de Príncipe dos Musicais.
Em alentado projeto sob produção e ideário de Renata Borges, contando com alguns de nossos mais destacados profissionais cênicos, do energizado sotaque breakdance na direção coreográfica de Alonso Barros aos tons psicodélicos da indumentária de Fábio Namatame. Mais a funcional direção musical/regencia de Laura Visconti, a partir de autorais canções de idolos pop/roqueiros, de Cyndi Lauper ao Aerosmith, compostas exclusivamente para o espetáculo, com extensão a um dos hits de David Bowie.
Tudo preenchendo a peculiaridade de uma subaquática arquitetura
cenográfica (Natália Lana) que se expande do alto ao solo e às laterais do
palco, numa abrangência de plasticidade marítima/ambiental, potencializada nos efeitos
luminares (Maneco Quinderé), tornando cúmplices numa mesma onda atores e espectadores, palco e platéia, com um metafórico mergulho aquoso sob a magia dos cartoons, em compasso cênico/musical.
Diante da unicidade qualitativa do elenco de cantores/atores, merecedores todos do aplauso do público, destacamos aqui o carisma prevalente de
Mateus Ribeiro no papel titular, a força convicta de Tauã Delmiro atuando como
um gênio do mal, a simpática estrela do mar na voz e no gestual de Davi Sá, sem
esquecer a agitada e muito engraçada esquila do Texas, por Analu Pimenta.
Onde a temática, no entorno de uma absurdidade anárquica e no
onirismo das caracterizações, tem uma abordagem estética capaz de satisfazer tanto a expectativa do prazer na fantasia infantil quanto a curiosidade e a surpresa dos adultos, sabendo
conectar de forma exemplar o pleno domínio direcional de Gustavo Barchilon ao brilho do desempenho atoral coletivo.
Enquanto o dimensionamento recreativo de Bob Esponja O Musical acaba levando
à reflexão positiva, pela confiança na
força da amizade para vencer de vez um
clima pré apocalíptico. Que muito além de sua simples acontecência imaginária
na Fenda do Bikini, afinal, paira com um verismo ameaçador sobre o cotidiano de
cada um de nós...
Wagner Corrêa de Araújo
Bob Esponja O Musical está em cartaz na Cidade das Artes Bibi Ferreira/Barra da Tijuca, sextas às 15 e às 20h; sábados às 16 e às 20h; domingos, às 17h. Até 16 de julho
Um comentário:
Uau, aqui é a prima Cristina, eu que não sou muito fã de cartunistas, apesar de meu marido e três filhos o serem, estou aqui curiosa com essa montagem. E seu texto tem o sabor exato do perigo que nos ronda. Vamos a ver... Saudades
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