FOTOS/ELISA MENDES |
As doutrinas anímicas acreditavam que as potencialidades
espirituais não eram exclusividade dos humanos mas de todos os seres vivos
povoadores dos espaços terráqueos.
Enquanto mergulhados nos delírios e fantasias da meninice
resistimos, sempre, acreditando na identificação com bichos e plantas em
diálogos imaginários, alimentados pelos contos infantis e pelas animações dos
quadrinhos, das projeções nas telas e das representações teatrais .
Mais recentemente, em 2009, um espetáculo do Cirque du Soleil
titulado Ovo, concepção coreográfica de Deborah Colker, sob a marca da
biodiversidade, colocava em cena
bailarinos-ginastas atuando como uma comunidade de acrobatas-insetos.
E, agora, Jô Bilac retoma o tema ao apresentar sua mais
recente incursão dramatúrgica – Insetos – estabelecendo uma travessia
orgânico/cênica comparativa com as mazelas da nossa contemporaneidade, sem
distinção se entre bichos ou para homens.
Que vem muito a propósito para celebrar os 30 anos da Cia dos
Atores, onde houve por bem a envolvente montagem de outro Jô Bilac – Conselho
de Classe, em 2014. E, aqui, dentro de
uma proposta de criação coletiva com a participação dos atores fundadores da
trupe –Cesar Augusto, Marcelo Olinto, Marcello Valle e Susana Ribeiro - e com a
convocação de um comando diretorial da hora - Rodrigo Portella.
Diante de um caótico sistema de vida universal, quase já
insustentável, sujeito a lutas territoriais e êxodos entre os povos,
desrespeitador do equilíbrio ecológico, especular no próprio conceitual das
relações humanas e da preservação da natureza como um todo, homens e insetos se
identificam nas mesmas adversidades e nos mesmos desafios.
Como num holocausto, baratas sucumbem em ações de extermínio
por gazes, ou são extirpados os que são mais frágeis, como as borboletas, pelos
mais fortes - besouros guerrilheiros, gafanhotos terroristas ou um louva a deus
tirânico. Enquanto as abelhas expulsas de seus habitats voam sem rumo, outros
insetos sonham com o paraíso português e aí qualquer analogia brasileira não é
mera coincidência.
Inventiva ambiência cenográfica (Beli Araújo/Cesar Augusto)
numa instalação plástica à base da mobilidade de pneus, se integra aos
figurinos lúdicos(Marcelo Olinto) com leves traços de atributos referenciais
destes micro seres(entre asas e antenas), sob luzes entre sombras(Maneco
Quinderé). Aos quais se juntam os enérgicos acordes da trilha de Marcelo H e as
sutilezas gestuais miméticas de Andréa Jabor.
A tamanhos e tantos ingredientes, acrescente-se a força de
performances empenhadas na entrega à unicidade de uma ideia dramática
diferencial: Cesar Augusto, Susana Ribeiro, Tairone Vale e na alternância entre
os Marcelos, Valle e Olinto, o último em incisivo molejo de sua físico/emotiva
corporeidade como homem/inseto.
Mas apesar de tantos atributos técnico/artísticos que fazem
sobressair o esforço comum de elenco e direção por um produto bem acabado fica,
ainda assim, uma sensação de certa
incompletude nas intenções textuais/dramatúrgicas deste Insetos.
Que não se
expande totalmente em cena e não alcança um retorno mais cúmplice do público,
ampliado pelo estranhamento de um espaço improvisado e com pouco favorecimento
para a percepção teatral.
Faltando, enfim, um tom acima na convicção de uma boa ideia
temática que fica, em meios vôos, na
dosagem entre o irônico e o ingênuo, carecendo de maior avanço em seu
contraponto crítico e no investimento estético/ideológico pelo
desentorpecimento em tempos tão teimosos como os nossos.
Wagner Corrêa de Araújo
INSETOS está em cartaz no CCBB/Centro/RJ, quarta a sexta, às
19h;sábado, às 17h e às 19h;domingo, às 19h. 80 minutos. Até 6 de maio.
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