HOLLYWOOD: CINISMO E COMPETIÇÃO


FOTOS/DANIEL MORAGAS


Radicalizando o conceitual que comanda a história e o comportamento da produção cinematográfica o filósofo Theodor W . Adorno vê, nela , "apenas negócios e este atributo exibe-se como ideologia para legitimar as coisas medíocres que se produzem intencionalmente”.

O que não deixa de ser um franco  referencial à abordagem dramatúrgica de David Mamet em “Speed-the Plow”,  terceiro momento da Trilogia Mamet , precedido por Oleanna e Race. E completando, assim, o tríptico sequencial das montagens cariocas comandadas por Gustavo Paso.

Sob o nominativo de Hollywood,  simplificando e tornando mais apreensível o sentido da tradução literal- acelerar o arado - a partir de uma inscrição medieval,  sobre as disputas e negócios entre Deus e o Diabo.

Aqui, pelo comportamento cínico, envolvendo dinheiro e sexo, que manipula o universo dos produtores executivos hollywoodianos, numa permanente arena com rounds de dominação, egoísmo , frieza e mediocridade.

Através da recente ascensão do diretor de produção Tony Miller(Cláudio Gabriel) e do encontro com o amigo/ sócio cinematográfico – Daniel Fox (alternando Ricardo Pereira/ Gustavo Falcão),com sua proposta fílmica “blockbuster” sobre uma bombástica  fuga de uma penitenciária.

Onde Tony sugestiona-lhe, antes, a leitura da novela sentimental – The Bridge - sobre o futuro apocalíptico da humanidade numa catástrofe climática. Nas entrelinhas dos falares mercadológicos, a disputa machista pelo desfrute sexual da secretária Karen(Luciana Fávero) que, por sua vez, numa noitada de sedução, convence o chefe a optar pelo espiritualista roteiro “new age”.

A arquitetura cenográfica (Gustavo Paso) de um escritório ainda em obras, na sua quase lembrança de  um set cinematográfico , é acentuada nas modulações do desenho de luz(Paulo César Medeiros)e nas  variações, entre sombras, da cena residencial. Ressaltando, também, o rigorismo formal da indumentária ( Sônia Soares).

Em Hollywood , mesmo com a habitual contundência  da linguagem de Mamet, direta e incendiária na sua estrutura dialetal, há intermitências na progressão dramática. Causadas pela reiterativa discussão sobre arte/ indústria/lucros e na postura sexista, que acaba não alcançando, em seu arquétipo temático, o esperado contraponto crítico.

Mesmo assim, diante deste perigoso desafio rítmico, mais uma vez, a direção de Gustavo Paso  revela empenho e folego no domínio decifrador das complexidades da escritura teatral de Mamet. Sabendo como explorar bem  todos os seus contornos e dar unidade interpretativa a um elenco de absoluta entrega aos personagens.

Perceptível no dimensionamento psicológico da obsessão profissional na performance de Cláudio  Gabriel. No desnudamento sutil do irônico e falso bom mocismo do papel de Luciana Fávero.

E nos convictos  embates sensoriais, entre o orgulho e o ressentimento, apesar da prevalência de um exasperado tom de fisicalidade, tanto por Gustavo Falcão como por Ricardo Pereira, na representação da laminar rebeldia de Daniel Fox. 

                                        Wagner Corrêa de Araújo


HOLLYWOOD está em cartaz no Teatro Poeira, de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 19h. 75 minutos. Até 25 de junho.

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