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FOTOS BY LÉO AVERSA |
É esta mortalidade instalada em nós , onde o estar morto só é
perceptível nos outros em sua entrega aos ainda vivos, que traz o referencial do existencialismo sartreano e da
absurdidade teatral na concepção do Will Eno de Os Realistas.
E é o próprio autor que
conceitualiza a peça no fator absoluto da
morte iminente , silenciosamente pressionando
nossas relações uns com os outros. A consciência do incrível mistério da existência,
o vazio de onde tudo veio e para onde tudo pode ir.
Na agitação falante, revelam sua vizinhança , afinidade
de propósitos e a similaridade de sobrenomes. E nas breves ausências dos
maridos, o espanto feminino lembrando a descoberta de enfermidades graves dos
consortes masculinos.
De repente, a aparente alegria no desfrutar o gozo das coisas mais simples do dia a dia de
pessoas mais que normais, vai se
decompondo na conscientização ,sob a espreita da morte, da proximidade terminal de dois seres interligados neste quarteto amigável.
É , então, que se estabelece um inteligente jogo cênico, onde as
nuances do trágico são anestesiadas por uma implosiva troca de palavras
. Capaz de surpreender , na sua aparente
informalidade, como um riso de irônico disfarce,
diante das absurdidades da condição humana.
Esta forma de escape estabelece,
por vezes, um clima incômodo para o público, no seu nonsense do nada que leva ao nada, de
sins e nãos de posturas simplórias, em tedioso tempo de espera pelas inevitabilidades
do destino.
Mas, ao tomar as rédeas da desordenada sequencia narrativa, a
direção de Guilherme Weber mostra sua firmeza
na meticulosa escolha de exponenciais elementos estilísticos. Numa admirável arquitetura cênica
de valoração trans/textual , assumida na
integralidade da marca da invenção.
No realismo dos objetos cenográficos e na funcionalidade dos
figurinos( Ticiana Passos), contrastando
com o encantamento e mistério na transparente paisagem de um bosque ao fundo (Daniela Thomas/Camila Schmidt).Tudo sob um sutil desenho de luzes(Beto Bruel), sugestionando inspiradora climatização tchecoviana.
Na entrega total do elenco aos personagens, em esplendorosa
interatividade de performances. Ora na densidade emocional de Mariana Lima, ora
no comovente equilíbrio com tensão de
Emílio de Mello. Nos expressivos recortes de interiorização de Fernando Eiras ou no mais que carismático
desempenho de Debora Bloch.
Numa destas instantâneas fulgurações criativas, capazes de serem reflexionadas na transcendência
dramatúrgica do questionamento da morte pelas interpelações afetivas dos
relacionamentos humanos.
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