FOTOS/LEO AVERSA |
Quando Billy Wilder lançou , em 1960, seu filme (The Apartment)
sua intenção foi desmascarar, pelo riso burlesco de uma tragicomédia romântica,
o sexismo machista da sociedade capitalista americana.
Que em tempos, então promissores, de enfrentamento do
conservadorismo moral e do domínio patriarcal, provocou o desnudamento da ascensão libertária do papel feminino ao mostrar o inverso , em
irônico contraponto crítico, com mulheres livres apenas para serem usadas como
objeto sexual.
Disfarçado na postura, entre uma falsa ingenuidade e o lado
interesseiro , de um executivo inferior que empresta o próprio apartamento às
suas chefias para encontros, meramente eróticos, com funcionárias subalternas, tais como
secretárias , recepcionistas e garçonetes.
No início dos anos 60, que traziam ares de renovação, a trama fílmica, na sua aparência de bem humorada abordagem social dos embates
entre o masculino e o feminino, na verdade denunciava, neste risível retrato
de bastidores, os podres poderes da
pequena burguesia empresarial .
O sucesso de público, o aplauso da crítica e as grandes
premiações do filme, estrelado por Jack Lemon e Shirley MacLaine , acabaram
conduzindo a uma versão musical, oito anos depois, pela dupla Burt Bacharach/Hal
David, ali então com o título de Promises, Promises, lançando pelo menos três hits
nas paradas, com roteiro original de Neil Simon.
Tendo já chegado aos palcos brasileiros com a mesma nominação do musical e na adoção de Se Meu Apartamento Falasse na versão, agora de volta, a quatro mãos por Charles Moeller e Claudio Botelho. Protagonizado
por Marcelo Médici como Chuck Baxter, o contador da empresa e o dono das chaves
para os encontros sexuais das
funcionárias de pequeno escalão com o poderoso chefão (Marcos Pasquim).
Incluída a garçonete
Fran (Malu Rodrigues), para frustração de Baxter(Médici) que por ela é, enfim, apaixonado.
Intervindo,ainda, outras personagens envolventes como a bêbada ou a descompensada enfermeira Marge(Maria
Clara Gueiros). Com presencial destacado ainda para o papel do médico Dr. Dreyfuss (André Dias),além das episódicas
mas qualitativas aparições de Patrick Amstalden , Karen Junqueira e Jullie.
Aí começam os irregulares temperos de um primeiro elenco que só tem real e enérgica força musical/vocal na personificação de Malu
Rodrigues, em ótimos solos como – I Say a Little Prayer For You, ao lado do naipe feminino, e I’ll Never
Fall in Love Again. Mas, visivelmente prejudicada na desproporção de contracenas
dela , como cantora/atriz, com a ausência deste atributo vocal em Marcelo Medici e , mais ainda,
com Marcos Pasquim.
Salvando-se o primeiro pela adequação absoluta ao tempo de
comicidade e convencimento carismático em sua performance. O que é também
nitidamente perceptível em Maria Clara Gueiros que , em seu episódico momento de
representação, conquista, de imediato, a cumplicidade da plateia.
O recato clean da concepção cenográfica (Rogério Falcão) não
compromete mas não entusiasma, mesmo com a participação de uma indumentária(Marcelo Marques) de época, de fidelidade
bem aproximativa, na ambiência do cuidadoso desenho de luz (Paulo Cesar Medeiros), de
alcance uniforme mas quase apenas vazado (Paulo Cesar Medeiros).
Mas no contexto cênico só tem maior envolvência os temas
clássicos de Bacharach tanto nas "récitas" vocais de Malu Rodrigues, como nos
conjuntos femininos ou no quarteto masculino(Antonio Fragoso, Fernando
Caruso,Renato Rabello e Ruben Gabira).
Tanto em retomadas como a de Londres(1996), as da Broadway em
2010 e , mais recentemente, no início de 2017, o retorno opinativo não repetiu mais a unanimidade elogiosa de sua estreia, há quase
meio século.
Diante de avaliações
lá de cima, como “a temperatura da noite
não passou do morno”(Ben Brantley/New York Times/2010),"claptrap sexista” e “releitura
descartável” (Paul Taylor/GMT/London/2017),enquanto, no hemisfério sul, nestas
bandas de cá, a presente remontagem também reflete tais ecos, inclusive na maioria da avaliação crítica, até
agora enunciada.
E, aí, para esquecer do não se identificar de verdade, dá uma vontade de fechar os olhos, viajar
pelos espaços siderais da mente para pousar na órbita do ano 2002, revivendo, afinal, o sonho poético/musical do que foi a versão
Moeller / Botelho em formato de concerto cênico.
Numa muito bem adoçada fórmula pocket que fez , na simplicidade funcional daquele Cristal Bacharach, aí sim, com muito açúcar e afeto, um memorável espetáculo musical/tributo .
Wagner Corrêa de Araújo
SE MEU APARTAMENTO FALASSE está em cartaz no Teatro Bradesco/Barra da Tijuca, sexta e sábado, às 21h; domingo às 18h. 150 minutos. Até 14 de Janeiro.
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