FOTOS/ LEEKYUNG KIM |
“Amor , amor, amor/ Não
há nada que você possa fazer que não possa ser feito/Não há nada que você possa
cantar que não possa ser cantado/Nada que você possa dizer, mas você pode
aprender a jogar/ É fácil”.
Versos de John Lennon através
da canção All You Need Is Love, como mote inspirador para o primeiro circuito transmissor mundial
televisivo(25/06/1967). E que, decisivamente, referenciou, como um hino
libertário comportamental e político, toda uma geração.
Pois, emblematicamente, são as suas primeiras palavras Love, Love ,Love que titulam o texto dramatúrgico
de Mike Bartlett , um dos mais inventivos e promissores nomes do teatro inglês contemporâneo.
E que, agora, chega aos nossos palcos , com um elenco de craques numa incisiva e reveladora direção de Eric Lenate.
Onde a organicidade do elenco explora, potencialmente, os
caracteres e contornos dos personagens, com
especial apuro na espontaneidade de
Rafael Primot, na contundência certeira de Yara Novaes e na sensibilização e no
folego rompante dos transes dramáticos
de Debora Falabella.
E no alcance maior das passagens de época, pela eficácia do
substrato técnico/artístico. Na mobilidade dos aportes cenográficos(André
Cortez), na individuação dos figurinos(Fábio Namatame) e na ambientação
climática das luzes( Gabriel Fontes Paiva) e incidências sonoras(L.P. Daniel),
sob o comando do mistificador/ mor Eric
Lenate.
Como outras duas criações de Bartlett, já aqui apresentadas (Cock,
Briga de Galo e Contrações),mais uma vez, prevalece o paradigma de conflitos posturais
e morais, da insegurança dos relacionamentos afetivos às atitudes de
contraponto crítico diante do espaço domiciliar e social.
Mas, em Love, Love,
Love num tríptico formato, transcendente
em seu recorte geracional de quatro décadas, no desnudamento de um mesmo núcleo familiar, da sua inicialização
(1967) ao epílogo (2011) .
E com um cáustico olhar e um sotaque de humor negro,
descontextualizando em corte laminar, o explosivo boom em torno das conquistas “anarquistas”,
entre o sexo, drogas e rock”n’roll,
de uma juventude no apelo redentor do apenas - “tudo que você precisa é de amor”.
Através de um trajetória narrativa impulsionada no desordenamento das atitudes , entre o descompromisso total e a “porralouquice” da universitária Sandra ( Debora Falabella) em
seus jogos sensuais e lisérgicos com os jovens irmãos Henry(Mateus Monteiro) e Kenneth(Rafael Primot).
No descompasso sequencial da progressiva disfuncionalidade
destas viagens pelos espaços siderais da mente quando, ainda os mesmos Kenneth(
agora , por Ary França) e Sandra( na performance de Yara Novaes), formam um
casal egoísta. Acomodado, entre álcool e
cigarros, e alheio a reais concessões aos filhos adolescentes – Rose(Debora
Falabella) e George(Rafael Primot).
E que, entre ressentimentos e num quase fluxo vingativo à sua personalização livre dos anos
60, ostensivamente, quatro décadas após, isenta-se , com cínica indiferença, das vicissitudes dos filhos (a reclusão de George e a aflição
financeira de Rose) culpando-os, metaforicamente, por não saberem, enfim, que o
sonho acabou.
Wagner Corrêa de Araújo
LOVE, LOVE, LOVE está em cartaz no Oi Futuro/Flamengo, de quinta a domilngo, às 20h. 110 minutos. Até 12 de março.
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