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Se considerado um delito contra a própria vida, o suicídio tem um
singular conceitual – é o único ato criminoso que não propicia nenhuma forma
posterior de culpabilidade ou de arrependimento. Também pode ser a mais cabal
demonstração de derrota ou fragilidade diante dos reveses da vida.
Diante de tais especulações morais ou filosóficas , o
documentário A Ponte, de 2006, do americano
Eric Steel registrou, com uma câmera fixa, um fluxo sequencial de suicidas no
mais atrativo point mundial para se
atirar mortalmente em águas profundas – a Golden
Gate Bridge, em San Francisco.
Inspirado pelo verismo dramático das imagens fílmicas e seus
depoimentos de amigos e familiares dos suicidas, o jovem ator Igor Cosso partiu para a sua segunda
incursão autoral. Que , no desvio de uma
previsível expectativa temática, com um irônico , crítico e risível olhar, resultou numa gratificante surpresa da
nova dramaturgia carioca – "Ponte Golden Gate”.
Frente a carência de recursos financeiros, ele reuniu uma convicta equipe técnica e artística
de amigos numa proposta despretensiosa, em formato de esquete,que lhe conferiu inúmeras
premiações e participações em mostras e festivais.
Animado, recorreu, então,
ao profissionalismo de Wendell Bendelack
para imprimir–lhe um direcionamento mais ousado mas de funcional descontração.
Onde as nuances de comédia dramática e a
fluência textual aparecem no eficaz uso de mecanismos do humor para explicar
situações de grave introspectividade.
Perceptível no domínio das passagens cênicas de três duplas
de turistas brasileiros transitando numa ponte / cartão postal de vida e morte.
Onde , sequencialmente, vão aderindo,
entre prós e contras, risos e tragédias, à aventura de um jogo suicida.
Com um elenco de jovens mostrando-se, todo o tempo, seguros
no naturalismo de suas falas coloquiais e
com um relaxamento gestual sem quedas no histrionismo gratuito.
Da máscara acre do personagem dark de Alexandre Barros às
intervenções quase ingênuas da baiana Janete(Mariana Cerrone). Nos arroubos
ciumentos de Suzana(Thais Belchior) confrontando as supostas traições do companheiro
Geraldo (Rael Barja, este ainda com pequenas oscilações em papel
recém-assumido).
E, finalmente, nos sustos do guia turístico Beto(Léo Bahia), diante de uma iminente perda afetiva do namorado Rael (Igor Cosso), com a referencial
e divertida irreverência da canção (Léo
Bahia,a capela) Poeira, de Ivete Sangalo.
No capricho e na
simplicidade eficaz da cenografia(Marcella Rica),figurinos(Maria Thereza
Macedo),desenho de luz(Frederico Eça) e score sonoro(Flávia Belchior), aliados
ao uso diretorial e à entrega do elenco ao vigor do texto, é alcançada a merecida
cumplicidade da plateia.
Wagner Corrêa de Araújo
PONTE GOLDEN GATE está em cartaz no Teatro Ipanema, quartas e quintas, às 20h. 55 minutos. Até 06 de abril.
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