FOTOS/THAISA TRABALLI |
Tema recorrente da literatura, do cinema e do teatro, a
pedofilia ou esta paixão proibida entre idades diferentes nos limites da
legalidade jurídica, tornou-se uma questão básica do universo psicopatológico ,
das análises primeiras de Freud à aplicação ao tema das teorias marxistas de
Wilhelm Reich, chegando aos conceitos filosóficos de Michel Foucault do amor
livre para qualquer geração.
Celebrizou romances como Lolita, de Vladimir Nabokov, quando
um preceptor ama sua enteada ou instigou claras insinuações homoeróticas de
relações juvenis nas narrativas de André Gide e Jean Genet ou no sutil disfarce
literário de Thomas Mann, na obsessão de um escritor envelhecido pela beleza
adolescente do Tadzio de Morte em Veneza.
Por outro lado, continua recheando as manchetes de jornais
com pais ou padrastos seduzindo suas consortes ou padres e pastores em
brincadeiras sexuais com seus aprendizes religiosos.
A pureza insegura de Una(Viviani Rayes), ninfeta de 12 anos
no despertar adolescente, irrompe sobre Ray( Yashar Zambuzzi), um homem adulto
e vinte anos mais velho , dos iniciais contatos virtuais a uma aproximação
sexual de fato ,com sua posterior prisão.
Anos mais tarde, a partir de uma foto de jornal, o reencontro
vítima/ algoz quebra o silêncio num complicado acerto de contas, trazendo risco
para sua vida familiar refeita com direito a filha adolescente(Debora Ozório), de fugaz mas esclarecedora presença cênica no epílogo .
O texto do inglês David Harrower – Blackbird , numa
referencia titular homônima a um clássico da canção jazzística, é inspirado num
episódio real onde os protagonistas são um fuzileiro americano e uma jovem
britânica, e alcançou o gosto das plateias e o aplauso crítico levando, em
2006, o prêmio Laurence Olivier.
Até que ponto são eles culpados quando se percebe o confronto
do desejo obsessivo de um homem de meia idade com a ingênua perversidade de uma
garota de 12 anos, de sexo à flor da pele?
O clima é acentuado com a contundência da cenografia
claustrofóbica( Pati Faedo) de acertada luz claro escura(Elisa Tandeta)
,acompanhada da incidental trilha sonora de Marcelo Alonso Neves.
E tem ,em sua versão brasileira, o senso estético apurado de
Bruce Gomlevsky ,que estabelece um inquisitivo jogo de dados e apostas –
palco/plateia - no desenrolar dos intrigantes diálogos/duelos , com impulsivas
jogadas verbais e acertados lances performáticos dos personagens.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
BLACKBIRD em nova temporada no Teatro Dulcina, Centro/RJ, quarta a domingo, às 19h. 80 minutos. Até 02 de abril.
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