BEIJA-ME COMO NOS LIVROS : METAFÓRICA LIÇÃO DE AMOR


Fantasia e paixão, desejo e posse, vida e morte atravessam as trajetórias de dois casais, amantes ou namorados, num tempo e num espaço de varias épocas. Com esta proposta, no espetáculo Beija-me Como Nos Livros, a cia. Os Dezequilibrados completa sua trilogia sobre o amor.

A verdade suicida é a resposta encontrada por três casais célebres na literatura e na música : Tristão e Isolda; Romeu e Julieta; Werther/Carlota . De outro lado, na vertente do mito erótico, o sedutor Don Juan realiza suas aventuras dissolutas com damas e criadas.

Todos estes embates galantes e lendários, de paixão e morte, nascidos de narrativas celtas (Tristão e Isolda), da mente teatral shakespeariana (Romeu e Julieta), dos delírios românticos de Goethe (Werther) ou da pena satírica de Tirso de Molina (Don Juan),são completados por passagens na contemporaneidade.

Trilhando todos um caminho de criatividade dúplice entre a literatura e a ópera: Mozart, Wagner, Massenet, Gounod, com incursões no mundo da dança ( Prokofief). O que possibilitou amplos horizontes à direção e à dramaturgia de Ivan Sugahara.

Esteticamente enriquecida com os elementos cenográficos (André Sanches) sugestionando imageticamente livros, paralela à visível beleza dos figurinos num mix de estilos, acentuado por precisa iluminação (Bruno Perlatto).

Embora a fluidez do espetáculo seja, em parte, obscurecida pela insistência numa linguagem fonética inventada, há uma extraordinária compensação na performance dramatúrgica de um elenco afinadíssimo (Ângela Câmara, Cláudia Mele, José Karini e Júlio Adrião).

Onde a movimentação gestual (Duda Maia) imprime um dinâmico virtuosismo de referencial coreográfico, no incrível equilíbrio entre a alternância cronológica passado/presente dos personagens em cena.

E é este acerto da pontuação espaço/tempo de corpos em "moto perpetuo" que, na ausência de um texto compreensivelmente audível, expõe o drama interior de seres envoltos numa torrente de paixões, sujeita a aflições, sofrimentos e morte.

Numa revelação emotiva de uma quase conversa silenciosa entre amantes ,impulsionada pela ação do gesto e pela expressividade facial, expositiva dos tormentos, santos ou demoníacos, dos relacionamentos afetivo/sensuais.

Capaz, ainda, de ser dimensionada e reflexionada, além da transitoriedade metafórica dos beijos livrescos , na sábia lição filosófica do bardo inglês:

“O amor é tão fugaz como o som, tão passageiro como a sombra, tão curto como o sonho, tão rápido como o relâmpago em noite escura”.

                                           WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO


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