Funny Girl - o Musical. Gustavo Barchilon /direção concepcional. Novembro/2023. Fotos/Caio Galucci. |
Desde sua estreia em 1964 nos palcos da Broadway, sequenciada
por uma versão fílmica (1968), Funny Girl provoca controvertidas
opiniões, acentuadas pelas suas duas mais recentes retomadas no formato de um
musical.
A propósito é muito esclarecedora a análise que um dos
maiores críticos da história do cinema – Roger
Ebert – fez quando estreou o filme de William
Wyler que, aliás, rendeu um Oscar de
Melhor Atriz para sua protagonista titular – Barbra Streisand.
Onde ele diz sobre a adaptação fílmica : “O problema com Funny Girl é quase tudo exceto Barbra Streisand...Todo mundo que não é Barbra Streisand é personagem coadjuvante. Como se todos estivessem esperando até que ela chegasse...”
Com sua longa duração e uma temática, de certa maneira, já por demais explorada na sua abordagem do processo de nascimento de uma estrela, a concepção direcional assumida por Gustavo Fiszman Barchilon tornando-se, a partir daí, um desafio para o experiente decifrador de mistérios no universo do grande musical.
Funny Girl. Gustavo Barchilon/Direção Geral. Novembro/2023. Fotos/Caio Galucci. |
A começar da concisão desta sua proposta cênica, reduzindo-o
a menos de duas horas, em ato único sem qualquer interrupção, mantendo suas
características básicas com um olhar mais armado na contemporaneidade. Numa tradução
que dá um recorte mais próximo do cotidiano a partir das lutas afirmativas de
uma personagem feminina, no seu processo de empoderamento social e artístico em
detrimento da habitual prevalência machista.
O que é revelado no sempre brilhante desempenho de Giulia
Nadruz por intermédio de suas múltiplas facetas de uma atriz, capaz de ser estelar tanto no
apuro vocal de seu canto como na diversidade performática de sua atuação psicofísica marcadas,
aqui, por sua incrível verve entre a comicidade e o drama.
Remetendo, com especificidade absolutamente original, à lembrança das excentricidades da icônica judia
Fanny Brice, nas suas representações
do Ziegfeld Follies anos 20, com seus
caracteres vaudevillianos marca registrada do primitivo show business.
Sabendo, também, referenciar Barbra Streisand ao assumir, sob traços próprios, a ingênua
precocidade de uma corista desajeitada, irônica e bem humorada, na sua
trajetória para o estrelato. Sendo, inclusive, capaz de dominar a respiração da
plateia quando faz ecoar a sua envolvente tessitura vocal.
Mas ao contrário do filme no seu exclusivo entorno da
personalidade efusiante da protagonista, o ideário cênico de Gustavo Barcillon
deu um justo dimensionamento, numa similar pegada para os outros
atores tornando-os, pela adequação nivelada da sua escolha, objetos do atento
olhar de cada espectador.
Como, no caso completando o trio protagonista, do ator Eriberto Leão no seu convicto papel de
um charmoso amante - Nick Arnstein - sob o inveterado domínio
do vicio das apostas, em promissora estreia sua no musical a la Broadway. Enquanto
Stella Miranda destaca-se, em seu instintivo potencial de maturidade atoral, como
a Sra. Rose, uma agitada mãe na busca obsessiva pelo sucesso artístico da
sua pupila.
Ainda tornado obrigatório ressaltar o caráter de monumentalidade da
arquitetura cenográfica no sugestionamento diferencial de ambiências, em mais outro destes acertos de Natalia Lana, paralela
ao descortino cintilante dos figurinos (Fabio Namatame) de época sob um sutil
toque de leveza e modernindade.
E o que dizer de uma efusiante direção musical (Carlos
Bauzys) que só faz aumentar ambiência de magia dos efeitos luminares (Maneco
Quinderé) e a invulgar surpresa de um identitário comando coreográfico (Alonso
Barros), incluídos os sapateados com solos artesanais de Eddie Ryan (personificados
pelo ator/bailarino André Luis Odin)?
Tudo direcionado a um mergulho imersivo num revival daqueles golden times, por intermédio de canções
antológicas como People, tão
aproximativas de nossas mais caras memórias, fazendo com que esta Funny
Girl propicie a incursão num teatro musical transcendente que, afinal, só
faz você ficar muito feliz por estar
lá...
Wagner Corrêa de Araújo
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