O OLHAR NA DANÇA : O CORPO COREOGRÁFICO BRASILEIRO NO DESAFIO AO SURTO PANDÊMICO

Texto sobre o Gesto, por Márcia Milhazes, no livro O Olhar na Dança. Foto/Ana Clara Miranda. 

Um elucidativo livro, publicado durante este adverso tempo pandêmico, evoca um panorama particularizado da criação coreográfica em moldes brasileiros. Em caprichada edição, acompanhada de um DVD, ação do núcleo de pesquisa da cena pela Chang Produções, com sede em  Brasília.

O OLHAR NA DANÇA – traz a assinatura autoral de Juana Miranda, atriz, bailarina e produtora teatral que, através de extensa e profícua pesquisa, elaborou um quase completo dossiê da dança contemporânea do país.  Onde, através de um questionamento de assumida similaridade, dirigido a 30 coreógrafos com grupos, alcança em seu mapeamento as nossas cinco regiões territoriais.

A proposta básica foi a de acentuar a diversidade da dança nacional contemporânea, desde a sua conexão com o coloquialismo da tradição popular à identidade própria dos experimentos estéticos em torno do gestual e do movimento da corporeidade cênica, do palco aos espaços alternativos.

Significativa parte dos coreógrafos aqui focalizados surgiu a partir da eclosão de tendências da contemporaneidade, dos anos 80 em diante, especialmente na região Sudeste. Destacando-se, entre outros, Rodrigo Pederneiras (Grupo Corpo) em Minas Gerais e, no Rio de Janeiro, a Marcia Milhazes Cia de Dança ou a Focus de Alex Neoral, este último egresso do grupo da Deborah Colker. Por sinal, uma fundamental Cia que, inexplicavelmente, não foi incluída nesta listagem.


 Mauricio Maciel e sua Cia Ói Nóiz Aki. Único amapaense presente em O Olhar da Dança.  Foto/ Aline Maciel.

Mas aparecem também, aqui, nomes referenciais de outras regiões como é o caso de Henrique Rodovalho e a Quasar, na representatividade do Centro-Oeste. Ao lado de outros grupos de abrangência mais regionalizada, estes menos conhecidos do circuito Rio/São Paulo.

O que chama mais atenção no livro é o descortino de enfoques múltiplos, perceptível nas respostas dos coreógrafos através de particularizados processos de criação  assumidos por cada um deles.

O que, sobremaneira, faz com que O Olhar na Dança fique armado não só na perspectiva documental de um legado artístico mas também na abertura  de novas frentes investigativas.

Fator básico para este momento fora do normal, na crise  gerada pelo rompimento do elemento presencial à causa do surto pandêmico. Mas que, apesar dos pesares, revela, outrossim, a experimentação de novas saídas a partir das plataformas digitais.

Podendo levar, afinal, ao transcender os recursos tecno/artísticos habituais, e no convívio obrigatório mas antes de tudo interativo com outras linguagens como a cinético/virtual, a uma inventiva revitalização dos próprios conceituais estético/sociais da Dança Contemporânea.  

Valendo, ainda, ressaltar, a propósito, o incisivo dimensionamento poético/sensorial do depoimento textual de  Márcia Milhazes :

"Gestos são pássaros. Voam livres e interessados a alcançar o desconhecido e capaz de gerar dentro e fora de nós não um encontro do acaso, mas sim, um cúmplice de um manuscrito sobre o amor"...

                                           Wagner Corrêa de Araújo

                                                 

Juana Miranda , a  bailarina, atriz , pesquisadora da cena e autora do livro O Olhar na Dança.

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