FOTOS/JANDERSON PIRES |
Quadrado, careta, conservador, atrasado, espalhafatoso,
chamativo, vulgar, de mau gosto, sem elegância, de pouco trato social...
Se cafona é pejorativo,
é antes um jeito diferente de ser ou de se afirmar, sem eira nem beira, tirando
do peito um coração sangrando para declarar paixão de mãe ou de bordel. Ou identificando-se como brega por um burlesco intimismo lacrimal,
materializado em catarse de ensimesmados males de amor.
Mesmo assim, capaz de despertar a atenção de um refinado
esteta dos ofícios culturais no vislumbre, aqui sem preconceitos, duma sutil aproximação de outro gênero artístico. Na ambiguidade de olhar, com histriônico sentimentalismo, as adversidades da condição humana pelo contraponto crítico de melancolizados libretos operísticos.
Onde na elaboração da linha textual Daniel Porto, replicando
outras criações com Alexandre Lino, estrutura uma progressão narrativa sustentada
no processo criativo do documentário cênico. Mas, desta vez, com uma sequencialidade de
teatro de formatação musical, através de um antológico repertório brega.
Prevalecendo, na primeira parte da encenação, um dimensionamento
formalista de teatro dentro do teatro pela figuração, simples e direta, dos bastidores, nus e crus, de um ensaio, com referenciais do homenageado à crise em nossos palcos.
Entre a prévia e o show propriamente dito, a convicção de um
experimentado elenco de atores/cantores que vai de Nívia Terra e Francisco Salgado, a nomes (Antonio Carlos Feio,Luciana Victor, Claudia Ribeiro, Marcelo Capobiango) que,
de uma forma ou outra, atuaram sob o
compasso mor de Sérgio Britto.
Ao qual se junta um artesanal score técnico/artístico (Karla de Lucca, cenografia e figurino;Renato Machado, desenho
de luz; Claudia Ribeiro, coreografia), sem esquecer o competente naipe instrumental (Ananda Torres, Rodrigo Salvadoretti e Jorge Lima, acumulando este a direção musical).
Todos, afinal, sintonizados no comando diretorial de Alexandre Lino que sabe
tanto assegurar a livre pulsão de espontaneidade da performance, como
transmutar o comportamental cafona em grandiloquente teatralidade e a breguice musical em ironizado virtuosismo.
Wagner Corrêa de Araújo
CAFONA SIM, E DAÍ? está em cartaz no Sesc Copacabana(Arena), de
quinta a sábado, às 20h30m;domingo,às 19h. 80 minutos. Até 03 de Junho.
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