FOTOS/RODRIGO CASTRO |
A Cia Aberta , em seus três anos de atuação na cena carioca,
vem se destacando pelo inusitado de suas propostas, em montagens teatrais que
conduzem ao questionamento filosófico , como na abordagem estética da solidão
em “Farnese da Saudade” e da dor existencial em “Vermelho Amargo”.
A Cia está, agora, de volta com sua investigativa leitura de "O Homem Elefante”, inspirada no tríptico – a peça de Bernard Pomerance, o filme
de David Lynch e o livro de Frederick Treves.
O tema original se apoia na veracidade da existência de um
ser disforme John Merrick, na segunda metade do século XIX , transformado em
atração dos “freak shows”, exibicionismo de aberrações para as classes
proletárias da Londres vitoriana.
Acometido por uma estranha doença genética, tornou-se um
paradigma da bizarrice da imagem humana , provocando o deboche e o riso cruel
das audiências, até ser resgatado pela piedade de um médico, para estudos de
anatomia em um hospital.
Nesta trajetória de análise clínica, o “homem elefante”, num
processo de auto descobrimento e de revelação da sensibilidade ,descobre , além
da terrífica imagem, que é afinal um ser humano capaz ,inclusive, de se
apaixonar .
A proposta da direção de Cibele Forjaz, ao lado de Wagner
Antônio, se apoia no dinamismo cênico com uma sutil e indagativa referência ao
“Grand Guignol”, teatro francês de exploração do horror naturalista.
Desde uma claustrofóbica ante-sala do teatro onde o público
é incitado, pela astuciosa envolvência do condutor Ross(Daniel Carvalho Faria),
a ingressar neste recinto de medo e pesadelo quando a cortina vermelha subir,
até o aparecimento do carismático protagonista o homem elefante(Vandré
Silveira).
Na ação dividida entre dois palcos – do submundo ao
hospitalar, enriquecida pelo convincente tom de recato do doutor Treves(Davi de
Carvalho) e da intensidade emotiva da senhora Kendall(Regina França), uma apurada adequação cenográfica(Aurora dos Campos) e a ambientalista iluminação de
Wagner Antônio.
Para o público, ao final ,caberia uma reflexiva constatação:
se não ficássemos presos aos padrões culturais das
aparências, poderíamos, talvez, sentir que a angústia por trás das deformidades
humanas é mais digna ,parodiando Shakespeare, do que “um individuo que pode
sorrir, sorrir , e ser um vilão”.
O HOMEM ELEFANTE está em cartaz no Centro Compartilhado de Criação, Barra Funda, São Paulo. Quinta, sexta, sábado e segunda, às 21h;domingo, às 20h. 100 minutos. Até 3 de outubro.
O HOMEM ELEFANTE está em cartaz no Centro Compartilhado de Criação, Barra Funda, São Paulo. Quinta, sexta, sábado e segunda, às 21h;domingo, às 20h. 100 minutos. Até 3 de outubro.
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