FOTOS/DESIRÉE DO VALLE |
Já vem de longe a narrativa literária com personagens
cuja opção existencial é a da negação das verdades absolutas que norteiam o
comportamento da condição humana.
O “Cândido” , de Voltaire, prefere assumir a postura de
filósofo ignorante questionando o otimismo ou adotando o maniqueísmo. Enquanto Dostoievsky leva seu “Idiota” à desistência de ser um humanista, diante do
não altruísmo de seus contemporâneos.
Inspirada no livro de Martin Page, Como Me Tornei Estúpido , a peça homônima reencontra , através de seu protagonista, a
renúncia à sabedoria pela fruição das coisas inúteis, no confronto com os desajustes e as inversões de nosso tempo.
Antonio ( Alexandre Barros) decide, perante seus amigos( Gustavo Wabner, Marino Rocha e
Rodrigo Fagundes), que o melhor caminho para a felicidade é não saber nada, abstraindo-se , como um tolo, de tudo que está à sua volta.
Nesta sua busca alternativa da ignorância, ele acredita que o
perfeito equilíbrio mental possa estar na alienação total de sua intelectualidade
, seja através do alcoolismo, seja pela morte ensaiada, ou até pela lobotomia .
A inteligente adaptação dramatúrgica de Pedro Kosovsky
manteve intacto o sotaque crítico do texto original. Acrescido de um oportuno
referencial, de refinada risibilidade, às
nossas bestialidades políticas , ambiguidades comportamentais e até ao mau gosto artístico.
Desde a campanha do mundo fashion , “Be Stupid”, a lideranças
farsistas (Bolsonaro), criatividade equivocada( Romero de Brito ), clinicas
mágicas, intolerâncias , futilidades midiáticas.
Com um toque equilibrado de sarcasmo e transgressão caricatural, na enérgica marcação da linguagem direcional de Sérgio Módena.
Com um toque equilibrado de sarcasmo e transgressão caricatural, na enérgica marcação da linguagem direcional de Sérgio Módena.
Completada, da concepção dos figurinos(Flávio Souza) à mobilidade cenográfica (Sérgio Módena/ Carlos Augusto
Campos), no imaginário de livros e estantes.
Sob luzes apropriadamente coloquiais( Fernanda/Tiago Mantovani), com o habitual apelo das incidências musicais de Marcelo Alonso Neves.
Sob luzes apropriadamente coloquiais( Fernanda/Tiago Mantovani), com o habitual apelo das incidências musicais de Marcelo Alonso Neves.
A agilidade e o improviso na alternância de personagens do trio
de atores ( Gustavo Wabner/Marino Rocha/Rodrigo Fagundes) revela um coeso e
ideal domínio da comicidade.
Enquanto o protagonismo de Alexandre Barros se apoia na adesão sincera ao papel , no seu rigoroso alcance de um traço farsesco entre o desespero e o absurdo.
Enquanto o protagonismo de Alexandre Barros se apoia na adesão sincera ao papel , no seu rigoroso alcance de um traço farsesco entre o desespero e o absurdo.
Na insanidade, na suspeição,
na dubiedade , na perigosa estupidez dos dias que estamos vivendo no Brasil de
agora, torna-se obrigatório conferir Como Me Tornei Estúpido.
Ainda que a desilusão e a desesperança, nos façam repetir, perplexos, com Voltaire:
Ainda que a desilusão e a desesperança, nos façam repetir, perplexos, com Voltaire:
“Não sei bem como penso.
Nem como vivo. Nem como sinto. Nem
como existo”.
COMO ME TORNEI ESTÚPIDO está em cartaz no Teatro Sesc/Ginástico, Centro RJ, de quinta a sábado, 19h; domingo, às 18h. 90 minutos. Até 27 de março.
COMO ME TORNEI ESTÚPIDO está em cartaz no Teatro Sesc/Ginástico, Centro RJ, de quinta a sábado, 19h; domingo, às 18h. 90 minutos. Até 27 de março.
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