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Maria, Maria. Grupo Corpo. Oscar Araiz/Coreografia. 1975/Palácio das Artes. José Luiz Pederneiras/Foto. |
A partir da comemoração em 2025 de meio centenário do Grupo
Corpo, com sua brilhante estreia no Grande Teatro do Palácio das Artes (BH) que, então, acompanhamos passo a passo, e tentando decifrar o enigma de tão singular conexão afetiva, decidi fazer esta viagem pelos espaços siderais da mente no decorrer deste Dia
Internacional da Dança.
Passando por tantos momentos vivenciais e profissionais cinquentenários
que acabaram por se transmutar nesta paixão desenvolvida, a princípio em plenos
anos 70, quando já atuava como um jornalista especializado em cultura,
coordenando ali um centro de documentação e artes visuais.
Que acabou resultando na criação da Sala de Cinema Humberto
Mauro, também próxima de completar seus 50 anos, depois de improvisadas sessões didáticas
com filmes 16mm que organizávamos, especialmente para a Escola de Dança e para o
Balé do Palácio das Artes, dirigido pelo inesquecível Carlos Leite.
E na proposta de entrevistar a maioria dos artistas que passavam por aquela conceituada Fundação cultural mineira, aos poucos tomando um contato mais de perto com grandes nomes da dança brasileira e mundial, integrantes das cias que se apresentavam no seu grande palco.
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Tatiana Leskova e Wagner Correa. Num dos incríveis encontros com esta Grande Dama da Dança Clássica . Final dos anos 90. Foto acervo particular. |
Naqueles oito anos conheci de perto inúmeros coreógrafos e
bailarinos europeus, americanos e brasileiros, em tempos ainda sem a internet,
chegando a estender estes contatos, em cartas e postais, além das temporadas
que, por vezes, eram mais longas como as do Het
National Ballet.
Tais como um dos seus coreógrafos Rudi van Dantzig ou da Pilar Lopez
Cia de Danza, ela que me fascinou ao relatar suas parcerias
coreográficas com Federico Garcia Lorca em suas turnês teatrais espanholas. Sem esquecer
da polêmica primeira atuação no Brasil de Mikhail Baryshnikov que, recusando-se
a participar de nosso habitual depoimento, respondeu secamente – “não quero ser crucificado mais uma vez”...
De BH partimos, em 1982, para a antiga TVE/RJ onde houve outra diferencial pulsão, através do Caderno
2 e de alguns especiais coreográficos que dirigimos, ora sobre o Balé do Teatro
Guaíra ou, então, sobre os Festivais de Joinville e do Pantanal. Tendo no final
dos anos 80, graças à grande amizade, extensiva até sua definitiva partida, com a crítica
Suzana Braga, integrado alguns júris de dança contemporânea e podendo reviver as
sessões cinematográficas didáticas naqueles festivais.
Para, depois do privilégio de muitas vesperais de domingo,
com a histórica, sempre memorial e ainda presencial Tatiana Leskova, aumentar
um contato assíduo e cada vez mais crescente com tantos nomes fundamentais da
dança contemporânea carioca e brasileira, de ontem, de hoje e de sempre.
Para confluir, em despretensioso mas antes de tudo convicto, exercício da crítica das artes cênicas, indo do teatro à dança, tentando preencher um espaço cada vez mais rareado em nossos dias, da imprensa escrita às mídias virtuais, com a intenção de, pelo menos, registrar este legado coreográfico sob o desafio de um assumido empenho, direcionado à valorização de seus heroicos mentores.
O que produziu um inesperado retorno de caráter documental depois de dois anos da criação de uma coluna dedicada exclusivamente à
dança em moldes brasileiros (Brazil Dance Reviews) na prestigiada revista
virtual francesa danse.org, por especial convite do bailarino, coreógrafo e crítico franco-americano Patrick Kevin O’Hara.
Numa surpresa feliz ao saber, através de seu idealizador, que todas as publicações, incluídas as fotos e os extratos em vídeo, dos colunistas-críticos de sete países, passariam a fazer parte permanente do primeiro e inédito acervo coreográfico virtual da Biblioteca Nacional da França, disponível em nível mundial para pesquisadores da dança.
E é por tudo isto que não tenho como deixar de comemorar mais um Dia Internacional da Dança, fazendo da dedicação espontânea e resistente de quem sempre foi irrestrito admirador das obras coreográficas, um tributo a favor de todos aqueles que escolheram, em meio a tantas adversidades, a Dança como uma missão de arte e de vida...
Wagner Corrêa de Araújo
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Mikhail Baryshnikov, Carlos Leite e Wagner Correa. 1980. Foto dos arquivos históricos do Palácio das Artes (BH). |