A TROPA: UM ACERTO DE CONTAS



FOTOS/ELISA MENDES




No sentido literal, tropa seria o conjunto de soldados de qualquer corporação militar e, numa generalização, agrupamento de várias pessoas ou até de animais.

O jornalista Gustavo Pinheiro estreia seu primeiro texto  para os palcos A Tropa  (vencedor carioca do concurso de dramaturgia Seleção Brasil do CCBB),com um duplo referencial, familiar e militarista ,  na sua titulação .

Egresso das forças armadas, viúvo e  aposentado( Otávio Augusto),em hospitalização terminal, tem à sua volta os quatro filhos que ele, metaforicamente, incorpora às suas lembranças de quartel, como se fossem parte de seus anos de armas.

Autoritário, dono da verdade,  moralista , reacionário em suas posturas, imunes à passagem de tempo e costumes, julga obrigatório transferir à sua descendência filial,  seus ideais  de coronel à época de ditadura.

Mas, impulsivamente, é conduzido  ao extremado confronto comportamental com aqueles nos quais depositara seus sonhos. Chegando, inclusive,  a  tributar  os generais/presidentes,  na escolha  nominal da sua prole masculina.

Decepcionado,  questiona agora com virulência e assiste com amargura,  o futuro “inglório” que coube a cada um deles.

Humberto(Alexandre Menezes) , o primogênito, que não passa de um simplório dentista , vivendo às custas do pai. Artur(Edu Fernandes), enrolado  nas corrupções empresariais de  compasso contemporâneo . Ernesto (Rafael Morpanini), jornalista demissionário, cineasta frustrado e , desafiando o conservadorismo paterno, assumidamente gay. E João Baptista( Daniel Marano), sem profissão, drogado e habitué de clínicas psiquiátricas.

O despojamento da proposta cênica ( Bia Junqueira) prioriza um maior contato público em torno do doente, no intimismo minimalista de um quarto de hospital. Acentuado pelo sotaque clean da iluminação (Adriana Ortiz), alternada nos meios tons das passagens memorialistas e com figurinos(Ticiana Passos) adequados ao que se pretende.

A direção de Cesar Augusto atinge o clima proposto , com elegância e segurança, retratando ironizadamente  um falido discurso ideológico . Num texto com poucas modulações narrativas  mas de sólida urdidura dramática ,além do perceptível alcance de uma linguagem de exponencial  envolvência palco/plateia.

O elenco de jovens atores (Alexandre Menezes,Edu Fernandes,Rafael Morpanini,Daniel Marano) mostra seu empenho na busca sincera do equilíbrio diante da maturidade e profissionalismo de Otávio Augusto. 

Que brilha em seu personagem pelo domínio físico, esplendor vocal  e energia emocional , numa das mais cintilantes performances da temporada.

Esta singular trama  de uma   "tropa fraternal", que se rebela  em grupo e se defende em particular,  diante das ordenações hierárquicas e desmandos de  um comando patriarcal, ressalta sua oportuna atualidade na presente crise de poder e falência política.



A TROPA está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Teatro III,Centro/RJ, de quarta a domingo,19h30m. 90 minutos. Até 01/Maio.

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