FOTOS/NIL CANINÉ |
“Eu me
considero um autor de um teatro engajado que não faz parte da indústria do
divertimento e busca acordar as consciências dormentes” , pensar do
dramaturgo romeno Matéi Visniec que pode servir de mote para sua peça O Corpo
da Mulher Como Campo de Batalha.
Na sua trama
narrativa há um claro conceitual em torno da
vulgarização do uso da fisicalidade corporal feminina como provocativo estopim, onde
inexiste o prazer sexual na sua aviltação substitutiva por uma mera estratégia de guerra.
Aqui o
estupro acontece como um ato afirmativo
do poder masculino, num campo minado pelo confronto ancestral de etnias dos Balcãs,
entre a radicalidade política e os
fanatismos morais e religiosos.
Além
fronteiras, numa pós situação advinda dos conflitos da Guerra da Bósnia, duas
mulheres assumem um posicionamento de resistência>redenção à trajetória amarga vivida
por ambas em situações de similaridade aproximativa. Do espanto à repulsa, no afrontamento de suas
identidades e da própria condição do feminino.
O fator
trágico é desvendado, inicialmente, nas falas isoladas da psicoterapeuta norte americana Kate(Ester Jablonski) para
quebrar o silêncio insistente de Dorra( Fernanda Nobre), a violada não só pela
dizimação familiar mas pelo estupro, com sua consequente gravidez odiada.
Mas o questionamento da violência é também individualizado no amargo descortino do ofício médico de identificação de cadáveres em vala comum, na personificação de Kate.
Mas o questionamento da violência é também individualizado no amargo descortino do ofício médico de identificação de cadáveres em vala comum, na personificação de Kate.
Explicitação
contundente não só na intuitiva perceptividade
do texto, fugindo às nuances da absurdidade habitual em Visniec, como no sustento psicológico das
marcas cênicas assumidas, em sutis modulações, pela direção(Luís Fernando
Philbert) para que o espetáculo alcance o tom exato.
O condensado décor cenográfico(Natália Lana) propicia, por sua vez, uma intensificada
concentração textual dos espectadores. Onde o desenho das luzes em meios
tons(Vilmar Olos) e a trilha rascante( Tato Taborda) colaboram para o enunciado
de uma das formas mais abjetas de violentação, quase escatológica no seu
teor avesso a qualquer concessão
poética.
A
loquacidade das atrizes de acento
monocórdio se, em parte, parece diminuir a ênfase na manipulação do conflito dramático, tem seu
contraponto na incisiva gestualidade (Marina Salomon) , de sensorial
comprometimento emotivo.
Mas não será
, por acaso, esta naturalidade introspectiva da performance, o que propicia uma
leitura mais clara e verista da vitimização do elemento feminino?
Não seria um
convite à reflexão coletiva e a uma possível reação à constância incômoda deste mal
civilizatório, o entrechoque psicossomático de Dorra ? :
“Não, eu não
acredito que podemos contar tudo. Não acredito que podemos entender tudo. Não
acredito que podemos entender tudo. Não acredito que tem um sentido em tudo que
contamos”...
O CORPO DA MULHER COMO CAMPO DE BATALHA está em cartaz na Sala Multiuso/ Sesc/Copacabana, de quinta a sábado, às 19h;domingo,às 18h. 70 minutos. Até 19 de junho.
NOVA TEMPORADA:Teatro Poeira,Botafogo,de quinta a sábado,21h;domingo,19h. Até 28 28 de agosto.
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